quinta-feira, 2 de abril de 2015

Dúbia

Cada vez mais olho pra dentro de mim mesma e percebo enormes contradições. Sou romântica, mas também casual. Sei ter foco, mas também sou muito instável. Não perco uma chance de ser brincalhona, mas posso levar algumas coisas muito a sério.
Como tantos extremos podem caber em uma pessoa só?

Olha, se utilizamos apenas 10% da capacidade do cérebro, acho que uns 8% disso deve ser só pra pregar peça em nós mesmos. Porque toda vez que vou um pouco mais a fundo e me pergunto porquê agi ou me senti de um jeito ou de outro em uma determinada situação, a resposta sempre leva a minha essência, minha história e minha maneira pessoal de perceber o mundo. Mas nossa mente é traiçoeira, e é capaz de criar as mais incompreensíveis maneiras de lidar com o quê apenas nós mesmos podemos compreender. Ela também tem seus motivos; compreender nossa essência é um trabalho intransferível que exige tempo, esforço e o reconhecimento de partes nem tão bonitas quanto a própria mente gostaria. 

Mas não dá pra fugir de si mesmo por muito tempo, a não ser que nos conformemos com o destino fatal de cair em todas as peças que nossa mente pregar. E, na boa, isso cansa. E cansa mais ainda lutar contra as próprias contradições.

Tira tudo que você acha que sente dos dois lados do ringue e traz pra perto de você. E, sei lá, vai ver esses seus contrários nunca quiseram de verdade estar em lados opostos; eles só precisavam de alguém pra parar a briga por eles.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Primeiras Vezes

Em praticamente todo filme que assisto, todo livro que leio e até todas minhas próprias experiências, as primeira vezes amorosas são meio... superestimadas. 
"É a primeira vez que faço isso com alguém"
"É a primeira vez que me sinto assim por alguém"
"É a primeira vez que vou nesse tipo de lugar por alguém"
E essa repetição toda nem é o problema. A dor de cabeça vem depois, com a única conclusão possível depois de tantas primeiras vezes:
"Agora é pra valer."

Ok, é normal sentir tudo isso na sua primeira e até segunda paixão. Mas, convenhamos, chega uma hora que não sobram muitas primeiras vezes a serem exploradas. E aí, a conclusão é que você desperdiçou todas suas chances de ser feliz de verdade? E mesmo as primeiras vezes que sobram, as sensações que ainda são únicas, são  simplesmente a repetição de um príncipe encantado que toda hora bate à sua porta?

Apesar de algumas semelhanças, todo e cada parceiro que você tiver despertará algo diferente em você. Isso não quer dizer que esse sim "vai dar certo", que vocês vão casar, ter filhos e envelhecer juntos caminhando ao por-do-sol. Isso só quer dizer que você estava aberto a conhecer, sentir e receber algo diferente do que esperava, e sim, se surpreendeu. Dure o tempo que durar, seja esse sentimento mútuo ou não, já é algo "certo". Todos nós precisamos nos surpreender de tempos em tempos.

Não me leve a mal. Isso não quer dizer que todos ou que nenhum dos seus casos amorosos vão ser especiais. O que posso garantir é que todos eles serão únicos. Quanto ao fator "especial", esse é uma escolha sua. É você que escolhe acreditar nas pequenas singularidades daquele relacionamento para determinar se é ou não algo que "pode dar certo", da forma que for. 

Mas, antes disso, pode valer a pena aceitar o relacionamento da maneira que é, sem grandes expectativas, sem esperar que ele seja o "The One", e sim com o coração aberto para ser surpreendido e - por que não? - feliz a qualquer momento.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

No Pain, All Gain

Por muito tempo eu segui aquela filosofia Nike de viver: se você quer resultados, tem que doer e deixar doer. Por isso eu me exercitava 2 horas por dia, e, se doía, é porque tava fazendo efeito. Também acreditei naquela propaganda de que é preciso forçar seus limites para expandi-los. Por isso acordava às 6 da manhã para suar pelo corpo todo e chegar ao meu limite em todos os treinos de CrossFit. 

Mas, na verdade, o que tudo isso fez foi colocar ainda mais dores e limites na minha cabeça. O meu valor próprio recaía ao meu tempo de treino e até à dor que eu sentia no dia seguinte. E isso se transferiu a todas as áreas da minha vida, de maneira que eu passei a associar sucesso a dor. Se qualquer conquista vinha sem dor,  era "bom demais pra ser verdade". Eu aceitava a dor como parte da minha rotina, só mais um compromisso na minha agenda.

Meu corpo até aguentou bem o tranco; foi a minha cabeça que não me deixou continuar. Já nem me lembrava da última vez que havia me olhado no espelho sem me sentir gorda. Já havia me acostumado a me sentir insatisfeita todos os dias. Isso me cansava mais do que qualquer corrida. Então resolvi jogar limpo e admitir pra mim que estava cansada de deixar que o meu valor próprio variasse tanto quanto meu peso na balança.

Com essa mudança de percepção, tive que conversar bastante comigo mesma. Me permiti sentir bonita, mesmo que não como eu imaginava. Me deixei sentir fome sem culpa, aprendendo ouvir o que meu corpo precisava. Aceitei que o exercício físico era um prazer na minha rotina, mas que eu não ia morrer se passasse uma semana sem ele.

Até ganhei alguns quilinhos durante nessa fase, mas já nem me importava tanto. Eu estava mais feliz, e todas as outras áreas da minha vida começaram a desabrochar junto com isso. Comecei a me perdoar pelas minhas falhas, e ficou muito mais fácil reconhecê-las. Deixei de me castigar pelos meus erros, e ficou muito mais fácil corrigi-los. 

Me peguei no colo e disse pra mim mesma que ia ficar tudo bem. E ficou.

Hoje, alguns quilinhos já até foram embora. Me exercito regularmente com Pilates e corrida e nunca me senti tão satisfeita comigo mesma. É verdade que muitas vezes tenho que me esforçar um bocado pra saltar da cama ou tirar a bunda do sofá, mas isso está longe de ser dolorido ou de forçar qualquer limite. Na verdade, tento manter em mente o resultado que quero ter em minha consciência, ao saber que estou cuidando de mim mesma com o carinho e a atenção que mereço.

Enquanto minha mente se mantiver aberta e em expansão, todos os limites são mera ilusão.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Parabéns, você tentou.

Depois de uma tentativa frustrada, o que não falta é frase clichê pra prêmio de consolação.
"Pelo menos você tentou" é uma dessas tristes que até fazem sentido, mas que não deixa de ser meio simplória. Ok, você realmente não saberia se era possível ou não sem arriscar, mas tem bem mais que isso por trás de uma tentativa. Se não tivesse, você não continuaria pensando nisso por tanto tempo, certo?

Tentar indica esforço para sair da sua zona de conforto e ir atrás do que se deseja. E por isso mesmo que muitas vezes o esforço tem que ser incrivelmente grande. É preciso coragem pra sair da zona de conforto. É preciso clareza pra saber o que se deseja de verdade. 

É preciso certeza para arriscar um movimento novo.

Mas se essa coragem for pura e a clareza for da essência, uma hora ou outra o "tentei" inevitavelmente se torna "consegui". A coragem não te deixa desistir; a clareza te mostra o aprendizado de cada tentativa. 

E vai ver um dia, um pouco mais a frente, a gente perceba que conquista maior não foi atingir ou desistir desse objetivo isolado na nossa mente. O propósito maior acaba ser nos mantermos fiéis a quem somos, ao quê queremos e aonde queremos chegar. 

Até chegar lá, ok, aceito o consolos alheios. Mas se querem realmente me ajudar, prefiro que digam "admiro sua coragem para se manter verdadeira consigo mesma. Não desiste não, tá?"

Tá.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Home

Um sentimento ambíguo toma conta de mim toda vez que volto de uma viagem.
Respiro aliviada o ar da minha cidade, mas já relembrando de como era o ar do meu destino anterior.
Fico feliz de dormir na minha caminha querida, mas já com saudades de acordar pra ver algo novo.
Minha cabeça sabe que estou em casa, mas meu coração já não tem mais tanta certeza.

O conceito de "lar" costuma ser associado com a sensação de pertencimento, conforto e até liberdade total para sermos nós mesmos. Mas quando você passa um tempo longe e em tantos lugares, ou você aprende a ser você mesmo em qualquer lugar ou aceita morrer de saudades de casa e voltar. 

Eu não voltei. E esse aprendizado me fez perceber que não existe nenhum lugar como a nossa casa, é verdade; mas também não existe nenhum lugar que nem o outro. Todos os lugares, conhecidos ou não, são únicos e merecem nossos olhos bem abertos para absorvê-los por inteiro. Descobrir e experienciar o novo é algo mágico, mas para isso é preciso estar em si mesmo primeiro. É preciso estar presente em si, centrado em sua essência, aberto a sua própria verdade, para então aceitar e entender a verdade de cada lugar.

Assim, sensação de pertencimento já não se prende mais a nenhum lugar; apenas a você mesmo. Qualquer lugar no mundo pode ser sua casa, desde que assim se queira. Por isso mesmo que agora eu escolho sentir que essa casa aqui é minha, reconhecendo que sou a mesma pessoa aqui, ali ou onde quer que eu esteja.

Pode até vir gente argumentando que eu só estou falando tudo isso porque ainda não tive um canto do mundo só meu, com a minha cara e do meu jeitinho. Pode até ser. Mas até lá, antes de pertencer a qualquer lugar, prefiro pertencer a mim mesma.

sábado, 13 de dezembro de 2014

No bom português, saudades

Das 6.912 línguas faladas no mundo, saudade é uma das palavras que só existe no nosso português.

Um correspondente? "Sentir falta" se aproxima do significado, mas nem tanto; você sente falta de algo no momento presente, numa vontade de ter de volta aquela pessoa ou situação. Em nostalgia, você deseja ter e sentir aquilo tudo de novo. Ponto.

Já a saudade vai um pouco mais além. Você reconhece o valor da lembrança e até o gostinho bom que vem na boca só de lembrar, mas é isso. Você tem a consciência de que qualquer momento da vida não pode se repetir ou reproduzir, por mais que se queira. Você está ciente de que somos todos feitos de lembranças, mas que não devemos viver delas. 

Devemos viver da força com que honramos todos esses momentos passados, através da gratidão pela chance de te-los vivido e do aprendizado que cada um nos deixou.

É impossível não ter saudade do que nos fez feliz; mas absolutamente possível tirar o melhor de cada momento e deixá-lo viver no passado, com todo o carinho que nossa própria história merece.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Tudo que você não pode ter

Por mais gratos que sejamos, sempre parece haver uma certa insatisfação no ar.

Minha carreira vai muito bem, mas a vida amorosa me traz pra baixo.
Sou feliz no meu relacionamento, mas odeio a minha profissão.
Gosto da minha rotina, mas só queria esquecer de tudo e ir viajar.
Adoro minha vida de viajante, mas sinto falta de um porto seguro.

São inúmeras as desculpas que usamos para buscar algo diferente do que experienciamos ou temos no presente. Mas a verdade de verdade é Proust que dá de bandeja: só amamos e desejamos o que não possuímos completamente. Não importa quão contente você esteja, basta entender que NÃO, você não pode ter aquela pessoa, carreira ou viagem agora, que BAM, isso é tudo que você quer.

Como podemos tão descaradamente boicotar nossa própria felicidade?

Por conta de um momento, um aspecto da nossa vida, todos os outros parecem um pouco menos coloridos, significantes e importantes. O sentido de um momento que você tem por completo hoje se perde em meio a todos os outros que você não tem, pelo motivo lógico de que é impossível ter tudo ao mesmo tempo.

Mas você sabe disso. Você já se percebeu. Então agora a escolha é sua.

Larga a soberba. 
Deixa de acreditar que a felicidade pertence a quem tem tudo, de uma vez só, sem medidas, sem momento. 
Esquece. 
Aceita que a felicidade é de quem aprecia tudo de melhor que o presente tem a oferecer, ao mesmo tempo que se permite sonhar com um futuro ainda melhor e mais brilhante.

Então aproveita tudo que vem, um segundo de cada vez. Nem sempre cada segundo vai parecer ter um propósito incrível na sua vida, mas acredite: sempre terá. E quando você olhar pra trás, quem sabe, toda uma trajetória infinitamente grata e feliz pode ter sido construída por esses pequenos presentes, um infinito de cada vez.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Precisar, Querer, Amar

O ser humano tem um jeito bem bizarro de gostar.

Afirmamos gostar do nosso carro, mas não nos damos ao trabalho de dar uma revisão pro bichinho no tempo recomendado.
Juramos que gostamos de alguém, mas nem sempre lembramos de nos colocar no lugar dela com um pouco mais de empatia.
Falamos que temos amor e noção de valor próprio, mas isso se torna secundário fácil fácil quando nos dispomos a fazer qualquer coisa para agradar outro que também supostamente amamos.

Que jeito mais doente é esse de amar?

Amamos a sensação que nos passa no momento, a ideia que aquilo implica e nada além disso. Tudo reflexo do que achamos que nos falta, angustia e aprisiona, esperando que outro me complete, acalme e liberte por mim mesmo. Cegos pelo que achamos que somos e precisamos, somos incapazes de amar algo simplesmente por "ser".

Mal enxergamos o que somos, quem dirá outras pessoas ou até objetos.

Pra amar de verdade, é preciso primeiro fazer isso consigo próprio, por se enxergar de verdade e saber se apreciar por inteiro, principalmente pelas partes menos admiráveis. Aí sim dá pra pensar em apreciar os outros pelo que realmente são, enxergando todos os defeitos e qualidades que o fato de existir implica nesse mundo.

Somente quando gostar de algo não envolver minhas próprias necessidades, justamente por essas já serem reconhecidas e cuidadas por mim mesmo, o apreço ao próximo será possível. Então o cuidar será uma simples extensão de mim mesmo a um outro que é também uma pessoa única e individual, mas com quem desejo compartilhar e expandir um amor que já é infinitamente cultivado dentro de mim.

Porque, pra querer e amar alguém de verdade, é necessário primeiro precisar só de si mesmo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Felicidade pra Depois

Ultimamente, quase todas as pessoas que entram na minha sala de aula demonstram muito, muito estresse. "Tenho trabalhado demais" é a resposta mais recorrente às causas dessa sensação, geralmente em função de um objetivo maior. Mas acho que a coisa é um pouco mais profunda que isso, indo além do clichê que o "stress" passou a ser graças às matérias do Globo Repórter e àquelas camisetas-lembrancinha de Porto Seguro (sim, você também lembra delas, não negue).

Especialmente para os ansiosos (e, na boa, quem não é?), a armadilha é certa. Você quer garantir que tudo aconteça como você acha melhor e está disposto a dar o melhor do melhor do seu máximo para isso. Como se você pudesse deter o controle da situação. Como se a realidade dependesse só de você. Como se toda essa pressão fosse garantir seu sucesso mais pra frente.

Você pode se considerar batalhador, sonhador e prático, e tudo isso é muito bom. Pode usar como resposta naquelas perguntas típicas de RH em entrevista de emprego. Mas o problema é que nem sempre seu trabalho, família ou relacionamento vai corresponder às suas expectativas ou aos seus esforços. E daí, você chora, levanta e começa tudo de novo, enquanto a tão almejada felicidade fica cada vez mais longe.

Exigindo que a felicidade venha do jeitinho que você quer e nada além disso, ela acaba se tornando aquele pontinho de luz inalcançável no fim da estrada onde a frustração, a exaustão e o estresse são destino certo. E até quando você vai adiar ser feliz? Até quando vai esperar que tudo seja do jeitinho que você quer para começar a curtir, aproveitar e apreciar as coisas hoje, como elas são?

Honestamente, acho que nenhum objetivo vale o preço de viver um mês, um ano ou uma vida inteira de infelicidade. O tempo é um negócio precioso demais para ser desperdiçado com qualquer coisa que não te faz bem. Algumas coisas só vão vir com esforço e dedicação a longo prazo, ok. Mas melhor ainda se pudermos fazer com que esse prazo seja prazeroso, produtivo e alegre, não acha? 

Além disso, quer um palpite? A melhor felicidade do mundo pode estar justamente no entre o que você deseja e o que mundo quer mostrar pra você. Vai um pouquinho pro lado, abre um espaço pra ela, vai. A estrada é longa, mas essa companheira faz qualquer viagem valer a pena.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Carta na Manga

Sinceramente, sempre fui a rainha da impulsividade, de não deixar nada por falar e de agir de acordo com o que eu sinto, por mais momentâneo que seja. Mas depois de tantas quedas, é quase impossível se ver no chão e não perceber que o discurso de faço-o-que-meu-coração-manda acaba muitas vezes sendo uma desculpa.

Tem vezes que me deixo levar por minhas emoções indiscriminadamente para simplesmente jogá-las ao mundo e esperar que o mundo use e lide com elas melhor do que eu. 

O quê eu sinto muitas vezes parece não caber dentro de mim. O sentimento se torna um vírus, que contamina e se espalha por todos os pensamentos que eu vou ter até o momento em que eu finalmente cair no sono (e, claro, justamente por isso que essa hora passa a demorar até mais pra chegar). 

Só que, ao acordar ainda cansada do dia anterior e mais ainda de mim mesma, a claridade invade o quarto e o grande "quê" fica mais claro. Minhas emoções são só minhas. Ninguém mais além de mim tem o poder de direcioná-las e transformá-las sozinho. Esse poder é meu a partir do momento em que as criei pela minha forma de pensar. Eu que as criei; a responsabilidade é minha.

Minhas emoções estão sempre em mim, e me comprometo a honrá-las em todos os momentos da minha vida. Mas sou eu que tenho o poder sobre elas, e não o contrário. Elas são parte essencial da pessoa que sou, mas não a única parte.

Vou sempre ouvir, aceitar, perdoar e amar o que quer que minhas emoções queiram me dizer. Mas, hoje, elas são apenas algumas cartas do baralho. Quem dita o jogo sou eu.

Boa noite.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Carta de Apresentação

Oi. Você já me viu por aí, mas acho que não sabe ao certo quem eu sou. Mas, acredite, eu sei bem que você é. Eu estou sempre em volta; você que não me reconhece.

Às vezes me disfarço de coração partido. Não é meu disfarce preferido, mas pelo menos depois de algum tempo você me percebe. Fui eu que te dei aquele empurrãozinho pra ter coragem pra recomeçar, lembra? E mesmo quando você não acreditava que merecia uma segunda chance, eu te acordava todo dia pra te dar todas as chances do mundo. Você nunca deixou de merecê-las, só precisava de alguém pra te lembrar disso.

Outras vezes acabo me aliando a um conhecido meu, o Ego, e daí nos disfarçamos de frustração. Ele só quer te dar mais teimosia, mas eu sempre dou um jeitinho de usar isso pra mostrar como todo esse drama não faz sentido. Sem pressa, não vou impor nada a você. Bem pelo contrário, vou falar bem baixinho no seu ouvido o discurso que você uma hora outra vai ouvir: até quando você vai culpar o mundo por não ser do jeito que você quer, ao invés de aproveitá-lo do jeitinho que ele é e tirar o melhor dele?

Ainda assim, tem gente por aí que insiste em me confundir com a Dor. De vez em quando eu até cruzo com ela por aí, mas nunca conversamos. Não temos nada pra conversar. Somos muito diferentes. Ela quer estagnação. Eu quero movimento. Ela quer que você tenha dó de você mesmo. Eu quero que você cresça consigo mesmo.

Se quer me confundir com alguém, me confunda com o Aprendizado. Ele chega sempre um pouco antes ou um pouco depois de mim, mas nunca se atrasa. Ele é meu parceiro; só funcionamos se o outro estiver por perto.

Não vou me alongar muito mais. Uma hora ou outra você vai me conhecer de perto e vai entender tudo isso. Seremos grandes amigos, pode ter certeza. Mas, enquanto isso, deixa eu só me apresentar.

Oi, meu nome é Oportunidade.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O que acontece depois da solidão?

Falem o que quiserem, mas não acredito que alguém seja feliz de verdade sozinho. Todos nós precisamos de um ombro amigo, de uma palavra de carinho ou do afeto de uma outra pessoa. Isso é natural.
Mas não sei se é tão natural assim o medo de ficar sozinho.

Lembro do autor Nick Flynn falando algo assim numa mesa redonda sobre auto-conhecimento e a função da solidão nessa busca. Ele pontuou como as pessoas evitam essa sensação a qualquer custo, mesmo sem saber de verdade o que nos espera além dela. 

"Em qualquer momento que nos encontramos sozinhos, recorremos  à mensagens, ligações ou internet numa tentativa de abafar a sensação de que estamos de fato sozinhos. Mas é só uma sensação, que como qualquer outra também vai passar quando nos acostumarmos com ela. Mas sequer arriscamos senti-la, com medo do que ela pode nos oferecer. Mas o que acontece depois da solidão, afinal?"

Esperando um amigo chegar no bar ou em qualquer momento inesperado sem companhia, o comportamento padrão tem sido ver o que há de novo no Facebook ou no Whatsaspp, como se o videozinho que juro-que-é-super-interessante ou o grupo que chove-mensagens-sem-noção não pudesse esperar até você chegar em casa. Sendo bem honesta, várias vezes fiz até pior e me peguei simplesmente encarando a tela do celular, sem nada pra ver ou me entreter. Parando um pouco pra pensar, percebi que o quê eu não queria era parecer sozinha ou entediada ou ficar observando outras pessoas acompanhadas. E, enfim, me sentir sozinha.

Mas ultimamente tenho contrariado esse meu comportamento. Com o celular na bolsa, curto um drink sozinha sem sentir dó de mim mesma ao ver outros acompanhados. Na verdade, até descobri que é divertido observar  outras pessoas. É lindo notar como somos tão parecidos e ao mesmo tempo diferentes. Indo mais além, mais interessante ainda é quando um dos observados inicia uma conversa ou eu mesma o faço. Sempre tem algo diferente pra saber. E mesmo quando não há ninguém por perto ou puxando papo, aprendi a dar espaço para meus pensamentos irem e virem, observando-os com cuidado e até bom humor de vez em quando.

Nem sempre é uma experiência incrível daquelas que valem a pena contar pros amigos, mas sempre acrescenta algo.  A rotina ganha um gostinho de novidade, o olhar fica mais leve, e a alma cresce. Aprendo sobre mim mesma com os outros, aprendo sobre os outros comigo mesma.

Sem esperar o celular apitar ou qualquer pessoa ligar, dou espaço para o novo chegar até mim. E nada mais novo do que cada vez mais descobrir o prazer de sua própria presença e das pessoas à sua volta, mesmo que não faça ideia de quem você mesmo ou os outros sejam. 

Depois de deixar a sensação de solidão passar, percebo que nunca estamos sozinhos. Só precisamos de um olhar atento, uma mente pensante e um coração batendo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Uma Crônica de Café, Starbucks e Empatia

*Aos amigos do Starbucks, que hoje me serviram café com inspiração.

Estava passando por um bloqueio pra escrever. Segui o procedimento padrão pra resolver: muffin, café e Starbucks.
Nem sempre o atendente está no melhor humor, mas nunca atendem mal ou são grossos. Na verdade, eles tão fazendo a mesma coisa que eu: sobrevivendo da melhor maneira que podem a mais um dia de trabalho. E pior que eu, a um dia de trabalho no shopping mais "pop" da cidade. Ok, eles se submeteram e escolheram isso. Mas não escolheram e nem precisam ouvir palavras que me fazem ter vergonha de pertencer à raça humana.

"Estranho, né, sempre que venho aqui me atendem de má vontade. Po, sai daqui, velho, vai pra rua, vai se drogar, mas larga esse trabalho de merda", disse o cliente que se senta à minha frente, como se fosse o único ser humano importante no estabelecimento inteiro. Ergui os olhos, mas determinada a me concentrar no meu muffin de banana.
Dois minutos depois, um atendente chama "Leo!", referente a um pedido pronto. Em seguida, a criatura responde "Eu!!!" e continua sentada com pés alegremente balançando na cadeira, como se esperando para ser atendida à mesa. Pra mim, foi como voltar pra sala da quarta-série, tendo que aguentar a piadinha diária do engraçadinho que senta no fundão. Mas agora ao invés de arranjar briga na diretoria, respirei fundo.
"Seu pedido, senhor."
"Ahhhh, aí sim! Eles gritam meu nome, eu não posso gritar de volta?" respondeu ele sarcasticamente a caminho do balcão, enquanto seu colega de mesa me olhava rindo como se não acreditasse no amigo. E, realmente, era inacreditável.

Agora vão me falar que cliente tem direito de reclamar por um serviço mal feito. E sim, temos esse direito. Mas, antes disso, qualquer ser humano no mundo tem direito a respeito. Você foi atendido mal? Chame o responsável, explique, oriente. Mas se correr atrás do que você merece e deseja implica em armar o barraco, subir o tom de voz e desprezar o trabalho do outro, repense. Sugiro até que primeiro pratique o exercício básico de respiração, que eu mesma fiz nessa situação. 

Se quiser arriscar ir um pouco mais além, crie o hábito da empatia. E nem precisa de muito esforço. Um "obrigado" olhando nos olhos já ajuda a perceber que, assim como você, ninguém consegue estar de bem com a vida ou muito menos com o trabalho todo dia. E quando você receber um "de nada", seja ele acompanhado por um sorriso ou por um olhar perdido, recorde-se de que pelo menos a sua parte foi feita. Sente e espere seu pedido consciente de que sua gentileza inevitavelmente vai gerar uma outra, e muitas vezes de maneira bem inesperada. Pode ser do próprio trabalhador que fará melhor seu trabalho numa próxima vez; pode ser de você mesmo, que passará seu dia mais leve e sem ressentimentos; ou até quem sabe de uma aspirante a escritora que estava na mesa ao lado esperando por uma história pra contar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Ser feliz não é uma competição

Estranho como o ser humano realmente se acostuma com tudo nessa vida. 
Particularmente, tenho percebido muito como a gente está acostumado se cobrar demais e inevitavelmente sofrer quando não conseguimos corresponder a essas expectativas. Mas já pararam pra se perguntar daonde vem todas essas metas e objetivos impossíveis que gostamos de impor a nós mesmos? Por que tanto esforço? Por que parece que nunca é o bastante? Por que tudo tem que ser tão sofrido?

"Tenho que ser o melhor. Não quero decepcionar ninguém."

Temos medo de sermos menos do que outros esperam de nós. Temos medo de ser o que somos e isso contrariar a ideia alheia. Temos medo de sermos nós mesmos "demais". Mas tanto medo de algo que nem conhecemos direito me soa tão irracional quanto uma criança com medo de escuro no próprio quarto. Quando alguém finalmente acende a luz, o medo se dissipa, se perde, se racionaliza. A diferença é que a nossa luz interna só nós mesmos podemos acender. E que o caminho até lá parece inconcebível de vez em quando. 

Por outro lado, pode ter certeza: a situação e o medo uma hora ou outra vão passar. Mas você vai estar pra sempre acordando no mesmo quarto consigo mesmo. Não dá pra fugir da nossa própria presença. 
Então não custa nada tentar. 
Tente não esperar tanto de si mesmo. Não, você não vai deixar de sonhar alto. Sim, você vai continuar trabalhando duro pra fazer seus sonhos se realizarem. Só que sem pressão. Sei que você acha que precisa dela. Acha que ela é que te faz tirar a bunda do sofá e fazer sua vida acontecer. Mas pode parar de achar. Não tem problema. Solte as rédeas e abrace a si mesmo para perceber que não é a pressão, mas a sua infinita vontade de ser feliz que te move. 

Agora sim, pode segurar firme. Acenda a luz. E quando você menos esperar, o seu melhor lado, aquele mais determinado, apaixonado, consciente e forte, vai conseguir transparecer muito mais facilmente. Tudo que ele precisava era do espacinho na sua vida que o medo fazia questão de ocupar.

Desocupe sua mente do que não te faz evoluir e preencha com uma 
boa dose de eu-me-perdoo-por-não-ser-perfeito. Não garanto que seus resultados instantaneamente vão exceder sua expectativa ou a dos outros. Mas você não precisa mais ser o melhor de todos mesmo. Só precisa ser você mesmo, sempre evoluindo e aprendendo não importa a situação. E esse seu eu, sem dúvida alguma, te trará mais contentamento e felicidade do que o melhor de qualquer outra pessoa.
Ser feliz não é uma competição. É uma opção.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

"A avaliação dos outros não é nenhum guia pra mim"

Adoram falar pra gente não se importar com o que os outros dizem. "Seja você mesmo e pronto", eles dizem. Mas esse conselho já é contraditório por si só, sabe? A partir do momento que dou crédito ao seu conselho e o aceito, eu já estou me importando com o que você pensa de mim. Então acho meio utópica essa ideia de absolutamente não se importar com o que as pessoas pensam de você. Não tem como; se eu gosto e me importo com alguém nesse mundo, acabo de alguma forma me importando com a imagem que a pessoa tem de mim. E não tem nada de errado nisso.

Na real, acho que a indiferença em relação aos outros pode ser tão prejudicial quanto a obsessão pelo que eles pensam.
Tentar desesperadamente agradar aos outros, sem ouvir seus próprios desejos e verdades, é suicídio. São milhares as conceituações que as pessoas tem sobre o que te faria ser uma "boa pessoa". Tentar atender a todas essas expectativas só nos deixa ainda mais perdidos por aí e, pior ainda, perdidos de nós mesmos.
Agora, só ouvir a si mesmo, exclusivamente, não deixa de ser um pouco de soberba da nossa parte. Como se alguém conseguisse entender sozinho todas as vozes e sentimentos que se passam dentro da gente, sem precisar de ajuda de ninguém. Sim, acredito que temos dentro de nós as respostas para quase tudo que precisamos. Nosso potencial interno é infinito, mas ainda pouco explorado. Por isso que também creio que às vezes uma mãozinha de fora pode ser útil pra gente encontrar um pouco mais facilmente esse caminho interno às nossas respostas.

Uma frase (que dizem ser) do Bruce Lee cai bem aqui: "A avaliação dos outros não é nenhum guia pra mim." Ele não foi utópico ao dizer que não se importa com nada do que acham dele. Não. Ele fala sobre guia e diretriz, coisas bem diferentes do que dar ou não importância. 
Esperar ser aprovado por todos é ser errante em meio a tantos caminhos, sem nunca encontrar um que lhe sirva e lhe satisfaça de verdade. Somos indivíduos diferentes e únicos demais para acreditarmos que o mesmo caminho que serviu ao outro servirá a mim automaticamente. Nossa força interna é a única capaz de nos guiar em direção à nossa própria verdade, no nosso próprio caminho. Mas essa não precisa ser uma caminhada solitária. Nossos caminhos individuais são únicos, mas isso não significa que não se cruzem. Mantenha sua mente aberta e tire proveito desses encontros. Sempre haverá algo a ensinar e a ser aprendido. Mas entenda que nesse emaranhado ninguém pode julgar, avaliar ou guiar melhor do que quem percorre cada caminho.
Tenha mente aberta ao que os outros podem te ensinar e ajudar, mas sempre com o coração inteiramente aberto a tudo que você tem a aprender com você mesmo.