sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Carta de Apresentação

Oi. Você já me viu por aí, mas acho que não sabe ao certo quem eu sou. Mas, acredite, eu sei bem que você é. Eu estou sempre em volta; você que não me reconhece.

Às vezes me disfarço de coração partido. Não é meu disfarce preferido, mas pelo menos depois de algum tempo você me percebe. Fui eu que te dei aquele empurrãozinho pra ter coragem pra recomeçar, lembra? E mesmo quando você não acreditava que merecia uma segunda chance, eu te acordava todo dia pra te dar todas as chances do mundo. Você nunca deixou de merecê-las, só precisava de alguém pra te lembrar disso.

Outras vezes acabo me aliando a um conhecido meu, o Ego, e daí nos disfarçamos de frustração. Ele só quer te dar mais teimosia, mas eu sempre dou um jeitinho de usar isso pra mostrar como todo esse drama não faz sentido. Sem pressa, não vou impor nada a você. Bem pelo contrário, vou falar bem baixinho no seu ouvido o discurso que você uma hora outra vai ouvir: até quando você vai culpar o mundo por não ser do jeito que você quer, ao invés de aproveitá-lo do jeitinho que ele é e tirar o melhor dele?

Ainda assim, tem gente por aí que insiste em me confundir com a Dor. De vez em quando eu até cruzo com ela por aí, mas nunca conversamos. Não temos nada pra conversar. Somos muito diferentes. Ela quer estagnação. Eu quero movimento. Ela quer que você tenha dó de você mesmo. Eu quero que você cresça consigo mesmo.

Se quer me confundir com alguém, me confunda com o Aprendizado. Ele chega sempre um pouco antes ou um pouco depois de mim, mas nunca se atrasa. Ele é meu parceiro; só funcionamos se o outro estiver por perto.

Não vou me alongar muito mais. Uma hora ou outra você vai me conhecer de perto e vai entender tudo isso. Seremos grandes amigos, pode ter certeza. Mas, enquanto isso, deixa eu só me apresentar.

Oi, meu nome é Oportunidade.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O que acontece depois da solidão?

Falem o que quiserem, mas não acredito que alguém seja feliz de verdade sozinho. Todos nós precisamos de um ombro amigo, de uma palavra de carinho ou do afeto de uma outra pessoa. Isso é natural.
Mas não sei se é tão natural assim o medo de ficar sozinho.

Lembro do autor Nick Flynn falando algo assim numa mesa redonda sobre auto-conhecimento e a função da solidão nessa busca. Ele pontuou como as pessoas evitam essa sensação a qualquer custo, mesmo sem saber de verdade o que nos espera além dela. 

"Em qualquer momento que nos encontramos sozinhos, recorremos  à mensagens, ligações ou internet numa tentativa de abafar a sensação de que estamos de fato sozinhos. Mas é só uma sensação, que como qualquer outra também vai passar quando nos acostumarmos com ela. Mas sequer arriscamos senti-la, com medo do que ela pode nos oferecer. Mas o que acontece depois da solidão, afinal?"

Esperando um amigo chegar no bar ou em qualquer momento inesperado sem companhia, o comportamento padrão tem sido ver o que há de novo no Facebook ou no Whatsaspp, como se o videozinho que juro-que-é-super-interessante ou o grupo que chove-mensagens-sem-noção não pudesse esperar até você chegar em casa. Sendo bem honesta, várias vezes fiz até pior e me peguei simplesmente encarando a tela do celular, sem nada pra ver ou me entreter. Parando um pouco pra pensar, percebi que o quê eu não queria era parecer sozinha ou entediada ou ficar observando outras pessoas acompanhadas. E, enfim, me sentir sozinha.

Mas ultimamente tenho contrariado esse meu comportamento. Com o celular na bolsa, curto um drink sozinha sem sentir dó de mim mesma ao ver outros acompanhados. Na verdade, até descobri que é divertido observar  outras pessoas. É lindo notar como somos tão parecidos e ao mesmo tempo diferentes. Indo mais além, mais interessante ainda é quando um dos observados inicia uma conversa ou eu mesma o faço. Sempre tem algo diferente pra saber. E mesmo quando não há ninguém por perto ou puxando papo, aprendi a dar espaço para meus pensamentos irem e virem, observando-os com cuidado e até bom humor de vez em quando.

Nem sempre é uma experiência incrível daquelas que valem a pena contar pros amigos, mas sempre acrescenta algo.  A rotina ganha um gostinho de novidade, o olhar fica mais leve, e a alma cresce. Aprendo sobre mim mesma com os outros, aprendo sobre os outros comigo mesma.

Sem esperar o celular apitar ou qualquer pessoa ligar, dou espaço para o novo chegar até mim. E nada mais novo do que cada vez mais descobrir o prazer de sua própria presença e das pessoas à sua volta, mesmo que não faça ideia de quem você mesmo ou os outros sejam. 

Depois de deixar a sensação de solidão passar, percebo que nunca estamos sozinhos. Só precisamos de um olhar atento, uma mente pensante e um coração batendo.