quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher.

A noção de contradição e coerência dos homens me parece um tanto distorcida.
Por que temos que ser coerentes e corretos todo o tempo, por toda vida?
Por que não podemos ter dois, três, quatro lados e ainda assim sermos nós mesmos?
E por que todos os lados de uma pessoa tem que ser coerentes e corretos?
Por que os lados opostos têm que ser necessáriamente contraditórios?
E mesmo que pareçam contraditórios...qual o problema?
Somos muitos dentro de um só. Muitas caras, muitos lados, muitas feras.
E todos nós merecemos a chance de nos descobrirmos e surpreendermos a nós mesmos a qualquer instante da vida.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Olhares

"Que foi?", ela perguntou enquanto ele a olhava.
"Nada, oras", ele respondeu sem entender.
Ele mentia, dizia a verdade, ou simplesmente olhava por olhar?
Ela percebeu que disso não saberia tão cedo.
"Que foi?", ele perguntou enquanto ela olhava as mãos dele.
"Nada, oras...Você tem uma mão bonita".
E ela não mentia. Pelo menos não para os outros.
Outra noite os dois estavam a ir embora após um sexo casual numa conversa casual.
"Leva o resto das camisinhas com você", ela pediu sem pedir.
"Leva você, pra usar com uns caras aí", ele brincou sem brincar.
"Há, boa piada", respondeu pensativa. "Leva você. Pega outras e se protege, pelo menos".
"Tudo bem...Vou levar pras gatinhas aí". respondeu ele, enquanto a olhava nos olhos com um largo sorriso no rosto.
Dessa vez não quis questionar. Ela sabia que algo significava realmente naqueles olhos. Mas também não quis pensar nisso. Perderia a graça.
Foram embora. E as camisinhas ficaram onde estavam, esquecidas em cima da cama.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Escadas

Subo as escadas sem olhar pra trás.
Não busco a ajuda do corrimão. As pernas doem, os músculos latejam.
Mas não paro.
Tentando cada vez ir mais rápido, tento não notar em que andar estou.
E mesmo quando sei onde estou, não percebo o quão alto estou.
Até chegar ao 17º andar, onde não tenho mais para onde subir, e olho para os lados.
Já consigo ver o topo do prédio ao lado. E já consigo olhar para baixo e sentir calafrios.
Como vim parar aqui? As pernas já não respondem às minhas ordens.
Mas, de repente, a altura já não parece intimidar. Muito pelo contrário.
A altura que agora me garante a segurança. É ela que me mantém afastada o bastante dos problemas, para sequer senti-los me corroendo por dentro.
É quando essa mão amiga aparece que tenho vontade de me entregar a ela.
E sentir o vento suave em meu rosto, tentando me alertar que o fim está próximo.
Mas o alerta apenas me acalma ainda mais.
E a vida finalmente parece muito mais simples.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Inconsciente

Meu cachorro chamado Luna aterroriza qualquer outro cachorro que entre em casa. Aterroriza, tira fora as mandíbulas, mata.
Mas logo preciso de um emprego. Meu pai me ajuda, eu confio com medo. Não tomo jeito de dirijir, muito menos ônibus. Muito menos ônibus minhocão. Ainda nem sei direito o trajeto do tal "Belém Velho Cristal UFRGS", mas todos acreditam que eu pego na hora. Já andei nesse trajeto antes, mas nunca consegui decorar ou realmente notar o caminho. Mas o que eu não souber, meu pai me guia.
Agora é minha primeira viagem. Ônibus razoavelmente cheio, mas já acertei a primeira curva. Até que não é tão difícil assim, é só virar o corpo que o volante vai junto.
Pra onde agora, pai? Direita, ele diz. Mas direita não é, como assim ele reconhece. Estamos agora num terminal, que fica como parada para voltar ao caminho correto.
Alguém embarca, até rola um intervalo, sair um pouco do ônibus. Mas na volta...cadê? Ele tava aqui mesmo, eu podia jurar! Corro desesperada pelo terminal, quase entro no ônibus errado, e nada.
Até que encontro o meu veículo. Vadia! Alguma puta tinha escondido a porta, e agora tomava o volante.
È quando eu a arranco da minha poltrona de motorista que...
"How can I decide what's right, when you're clouding up my mind..."
12:30. Meu despertador. Time to wake up.