quarta-feira, 16 de julho de 2014

"A avaliação dos outros não é nenhum guia pra mim"

Adoram falar pra gente não se importar com o que os outros dizem. "Seja você mesmo e pronto", eles dizem. Mas esse conselho já é contraditório por si só, sabe? A partir do momento que dou crédito ao seu conselho e o aceito, eu já estou me importando com o que você pensa de mim. Então acho meio utópica essa ideia de absolutamente não se importar com o que as pessoas pensam de você. Não tem como; se eu gosto e me importo com alguém nesse mundo, acabo de alguma forma me importando com a imagem que a pessoa tem de mim. E não tem nada de errado nisso.

Na real, acho que a indiferença em relação aos outros pode ser tão prejudicial quanto a obsessão pelo que eles pensam.
Tentar desesperadamente agradar aos outros, sem ouvir seus próprios desejos e verdades, é suicídio. São milhares as conceituações que as pessoas tem sobre o que te faria ser uma "boa pessoa". Tentar atender a todas essas expectativas só nos deixa ainda mais perdidos por aí e, pior ainda, perdidos de nós mesmos.
Agora, só ouvir a si mesmo, exclusivamente, não deixa de ser um pouco de soberba da nossa parte. Como se alguém conseguisse entender sozinho todas as vozes e sentimentos que se passam dentro da gente, sem precisar de ajuda de ninguém. Sim, acredito que temos dentro de nós as respostas para quase tudo que precisamos. Nosso potencial interno é infinito, mas ainda pouco explorado. Por isso que também creio que às vezes uma mãozinha de fora pode ser útil pra gente encontrar um pouco mais facilmente esse caminho interno às nossas respostas.

Uma frase (que dizem ser) do Bruce Lee cai bem aqui: "A avaliação dos outros não é nenhum guia pra mim." Ele não foi utópico ao dizer que não se importa com nada do que acham dele. Não. Ele fala sobre guia e diretriz, coisas bem diferentes do que dar ou não importância. 
Esperar ser aprovado por todos é ser errante em meio a tantos caminhos, sem nunca encontrar um que lhe sirva e lhe satisfaça de verdade. Somos indivíduos diferentes e únicos demais para acreditarmos que o mesmo caminho que serviu ao outro servirá a mim automaticamente. Nossa força interna é a única capaz de nos guiar em direção à nossa própria verdade, no nosso próprio caminho. Mas essa não precisa ser uma caminhada solitária. Nossos caminhos individuais são únicos, mas isso não significa que não se cruzem. Mantenha sua mente aberta e tire proveito desses encontros. Sempre haverá algo a ensinar e a ser aprendido. Mas entenda que nesse emaranhado ninguém pode julgar, avaliar ou guiar melhor do que quem percorre cada caminho.
Tenha mente aberta ao que os outros podem te ensinar e ajudar, mas sempre com o coração inteiramente aberto a tudo que você tem a aprender com você mesmo.

sábado, 12 de julho de 2014

Definir-se pelo seu trabalho é o mesmo que limitar-se

Tenho a data de entrega gritando num ouvido.
A voz do meu chefe no outro.
E dez mil vozes dentro de mim exigindo nada mais do que a perfeição.
Haja trabalho. Mas pra quê mesmo?
Ok, as contas não vão magicamente desaparecer no final do mês e a comida não vai milagrosamente brotar no seu quintal cimentado. Mas chega num ponto em que não estamos mais trabalhando só pra pagar conta ou botar comida na mesa.
Nessa hora, quando já estamos descontando o estresse até no cachorro atravessando a rua, parece bem mais provável que estejamos trabalhando para provar nosso valor.

É o nosso valor profissional recaindo sobre o pessoal. Como se ser um profissional competente me fizesse automaticamente uma pessoa melhor. Mas foi assim que a gente aprendeu. 
Quando a tia do jardim de infância perguntava sobre nosso futuro, não queria saber dos lugares ou pessoas que queríamos conhecer. Ela perguntava sobre o que queríamos ser, e um "ser" totalmente restrito à nossa condição profissional. E daí a escola, o colégio, a faculdade, a vida toda passa a girar em volta de uma carreira que supostamente vai ditar nosso nível de sucesso e satisfação pessoal.
E quando finalmente surge o primeiro emprego e a carreira começa a se concretizar, a gente não hesita a cair de cabeça no trabalho e deixar que todas as outras áreas da nossa vida girem em volta dele. 

E a pergunta surge de novo: pra quê mesmo?
Pode ser sincero. A sensação de estar estressado, ocupado e sobrecarregado supre todas suas necessidades de reconhecimento, afeto e satisfação? Se sentir exausto te traz felicidade?
Pelo menos no meu caso, me recuso a responder que sim. Me recuso a acreditar que o trabalho é capaz de nos definir. 

Cada um tem sua vocação, e o trabalho pode ser uma maneira linda de explorá-la. Mas muitas vezes temos mais do que vocação; temos várias, mesmo elas sendo contraditórias ou não se aplicando na mesma profissão. E, ainda assim, todas podem servir para nosso crescimento pessoal, ao mesmo tempo que contribuem para a sociedade. Por que não ser engenheiro durante a semana e técnico do time de futebol do bairro no domingo? Por que não achar 1h de intervalo entre uma aula e outra pra tocar violão no hospital da cidade? E por que não fazer aquelas aulas de dança no seu tempo livre da empresa?

Somos dez mil coisas dentro de uma só. Permita que seu trabalho seja parte de quem você é e o faça com muito amor. Mas não se limite. Não se esconda de tudo que você é.
Explore-se. Descubra-se.
E seu valor próprio será muito maior do que seu chefe ou seu salário jamais poderiam te dar.