sábado, 13 de dezembro de 2014

No bom português, saudades

Das 6.912 línguas faladas no mundo, saudade é uma das palavras que só existe no nosso português.

Um correspondente? "Sentir falta" se aproxima do significado, mas nem tanto; você sente falta de algo no momento presente, numa vontade de ter de volta aquela pessoa ou situação. Em nostalgia, você deseja ter e sentir aquilo tudo de novo. Ponto.

Já a saudade vai um pouco mais além. Você reconhece o valor da lembrança e até o gostinho bom que vem na boca só de lembrar, mas é isso. Você tem a consciência de que qualquer momento da vida não pode se repetir ou reproduzir, por mais que se queira. Você está ciente de que somos todos feitos de lembranças, mas que não devemos viver delas. 

Devemos viver da força com que honramos todos esses momentos passados, através da gratidão pela chance de te-los vivido e do aprendizado que cada um nos deixou.

É impossível não ter saudade do que nos fez feliz; mas absolutamente possível tirar o melhor de cada momento e deixá-lo viver no passado, com todo o carinho que nossa própria história merece.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Tudo que você não pode ter

Por mais gratos que sejamos, sempre parece haver uma certa insatisfação no ar.

Minha carreira vai muito bem, mas a vida amorosa me traz pra baixo.
Sou feliz no meu relacionamento, mas odeio a minha profissão.
Gosto da minha rotina, mas só queria esquecer de tudo e ir viajar.
Adoro minha vida de viajante, mas sinto falta de um porto seguro.

São inúmeras as desculpas que usamos para buscar algo diferente do que experienciamos ou temos no presente. Mas a verdade de verdade é Proust que dá de bandeja: só amamos e desejamos o que não possuímos completamente. Não importa quão contente você esteja, basta entender que NÃO, você não pode ter aquela pessoa, carreira ou viagem agora, que BAM, isso é tudo que você quer.

Como podemos tão descaradamente boicotar nossa própria felicidade?

Por conta de um momento, um aspecto da nossa vida, todos os outros parecem um pouco menos coloridos, significantes e importantes. O sentido de um momento que você tem por completo hoje se perde em meio a todos os outros que você não tem, pelo motivo lógico de que é impossível ter tudo ao mesmo tempo.

Mas você sabe disso. Você já se percebeu. Então agora a escolha é sua.

Larga a soberba. 
Deixa de acreditar que a felicidade pertence a quem tem tudo, de uma vez só, sem medidas, sem momento. 
Esquece. 
Aceita que a felicidade é de quem aprecia tudo de melhor que o presente tem a oferecer, ao mesmo tempo que se permite sonhar com um futuro ainda melhor e mais brilhante.

Então aproveita tudo que vem, um segundo de cada vez. Nem sempre cada segundo vai parecer ter um propósito incrível na sua vida, mas acredite: sempre terá. E quando você olhar pra trás, quem sabe, toda uma trajetória infinitamente grata e feliz pode ter sido construída por esses pequenos presentes, um infinito de cada vez.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Precisar, Querer, Amar

O ser humano tem um jeito bem bizarro de gostar.

Afirmamos gostar do nosso carro, mas não nos damos ao trabalho de dar uma revisão pro bichinho no tempo recomendado.
Juramos que gostamos de alguém, mas nem sempre lembramos de nos colocar no lugar dela com um pouco mais de empatia.
Falamos que temos amor e noção de valor próprio, mas isso se torna secundário fácil fácil quando nos dispomos a fazer qualquer coisa para agradar outro que também supostamente amamos.

Que jeito mais doente é esse de amar?

Amamos a sensação que nos passa no momento, a ideia que aquilo implica e nada além disso. Tudo reflexo do que achamos que nos falta, angustia e aprisiona, esperando que outro me complete, acalme e liberte por mim mesmo. Cegos pelo que achamos que somos e precisamos, somos incapazes de amar algo simplesmente por "ser".

Mal enxergamos o que somos, quem dirá outras pessoas ou até objetos.

Pra amar de verdade, é preciso primeiro fazer isso consigo próprio, por se enxergar de verdade e saber se apreciar por inteiro, principalmente pelas partes menos admiráveis. Aí sim dá pra pensar em apreciar os outros pelo que realmente são, enxergando todos os defeitos e qualidades que o fato de existir implica nesse mundo.

Somente quando gostar de algo não envolver minhas próprias necessidades, justamente por essas já serem reconhecidas e cuidadas por mim mesmo, o apreço ao próximo será possível. Então o cuidar será uma simples extensão de mim mesmo a um outro que é também uma pessoa única e individual, mas com quem desejo compartilhar e expandir um amor que já é infinitamente cultivado dentro de mim.

Porque, pra querer e amar alguém de verdade, é necessário primeiro precisar só de si mesmo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Felicidade pra Depois

Ultimamente, quase todas as pessoas que entram na minha sala de aula demonstram muito, muito estresse. "Tenho trabalhado demais" é a resposta mais recorrente às causas dessa sensação, geralmente em função de um objetivo maior. Mas acho que a coisa é um pouco mais profunda que isso, indo além do clichê que o "stress" passou a ser graças às matérias do Globo Repórter e àquelas camisetas-lembrancinha de Porto Seguro (sim, você também lembra delas, não negue).

Especialmente para os ansiosos (e, na boa, quem não é?), a armadilha é certa. Você quer garantir que tudo aconteça como você acha melhor e está disposto a dar o melhor do melhor do seu máximo para isso. Como se você pudesse deter o controle da situação. Como se a realidade dependesse só de você. Como se toda essa pressão fosse garantir seu sucesso mais pra frente.

Você pode se considerar batalhador, sonhador e prático, e tudo isso é muito bom. Pode usar como resposta naquelas perguntas típicas de RH em entrevista de emprego. Mas o problema é que nem sempre seu trabalho, família ou relacionamento vai corresponder às suas expectativas ou aos seus esforços. E daí, você chora, levanta e começa tudo de novo, enquanto a tão almejada felicidade fica cada vez mais longe.

Exigindo que a felicidade venha do jeitinho que você quer e nada além disso, ela acaba se tornando aquele pontinho de luz inalcançável no fim da estrada onde a frustração, a exaustão e o estresse são destino certo. E até quando você vai adiar ser feliz? Até quando vai esperar que tudo seja do jeitinho que você quer para começar a curtir, aproveitar e apreciar as coisas hoje, como elas são?

Honestamente, acho que nenhum objetivo vale o preço de viver um mês, um ano ou uma vida inteira de infelicidade. O tempo é um negócio precioso demais para ser desperdiçado com qualquer coisa que não te faz bem. Algumas coisas só vão vir com esforço e dedicação a longo prazo, ok. Mas melhor ainda se pudermos fazer com que esse prazo seja prazeroso, produtivo e alegre, não acha? 

Além disso, quer um palpite? A melhor felicidade do mundo pode estar justamente no entre o que você deseja e o que mundo quer mostrar pra você. Vai um pouquinho pro lado, abre um espaço pra ela, vai. A estrada é longa, mas essa companheira faz qualquer viagem valer a pena.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Carta na Manga

Sinceramente, sempre fui a rainha da impulsividade, de não deixar nada por falar e de agir de acordo com o que eu sinto, por mais momentâneo que seja. Mas depois de tantas quedas, é quase impossível se ver no chão e não perceber que o discurso de faço-o-que-meu-coração-manda acaba muitas vezes sendo uma desculpa.

Tem vezes que me deixo levar por minhas emoções indiscriminadamente para simplesmente jogá-las ao mundo e esperar que o mundo use e lide com elas melhor do que eu. 

O quê eu sinto muitas vezes parece não caber dentro de mim. O sentimento se torna um vírus, que contamina e se espalha por todos os pensamentos que eu vou ter até o momento em que eu finalmente cair no sono (e, claro, justamente por isso que essa hora passa a demorar até mais pra chegar). 

Só que, ao acordar ainda cansada do dia anterior e mais ainda de mim mesma, a claridade invade o quarto e o grande "quê" fica mais claro. Minhas emoções são só minhas. Ninguém mais além de mim tem o poder de direcioná-las e transformá-las sozinho. Esse poder é meu a partir do momento em que as criei pela minha forma de pensar. Eu que as criei; a responsabilidade é minha.

Minhas emoções estão sempre em mim, e me comprometo a honrá-las em todos os momentos da minha vida. Mas sou eu que tenho o poder sobre elas, e não o contrário. Elas são parte essencial da pessoa que sou, mas não a única parte.

Vou sempre ouvir, aceitar, perdoar e amar o que quer que minhas emoções queiram me dizer. Mas, hoje, elas são apenas algumas cartas do baralho. Quem dita o jogo sou eu.

Boa noite.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Carta de Apresentação

Oi. Você já me viu por aí, mas acho que não sabe ao certo quem eu sou. Mas, acredite, eu sei bem que você é. Eu estou sempre em volta; você que não me reconhece.

Às vezes me disfarço de coração partido. Não é meu disfarce preferido, mas pelo menos depois de algum tempo você me percebe. Fui eu que te dei aquele empurrãozinho pra ter coragem pra recomeçar, lembra? E mesmo quando você não acreditava que merecia uma segunda chance, eu te acordava todo dia pra te dar todas as chances do mundo. Você nunca deixou de merecê-las, só precisava de alguém pra te lembrar disso.

Outras vezes acabo me aliando a um conhecido meu, o Ego, e daí nos disfarçamos de frustração. Ele só quer te dar mais teimosia, mas eu sempre dou um jeitinho de usar isso pra mostrar como todo esse drama não faz sentido. Sem pressa, não vou impor nada a você. Bem pelo contrário, vou falar bem baixinho no seu ouvido o discurso que você uma hora outra vai ouvir: até quando você vai culpar o mundo por não ser do jeito que você quer, ao invés de aproveitá-lo do jeitinho que ele é e tirar o melhor dele?

Ainda assim, tem gente por aí que insiste em me confundir com a Dor. De vez em quando eu até cruzo com ela por aí, mas nunca conversamos. Não temos nada pra conversar. Somos muito diferentes. Ela quer estagnação. Eu quero movimento. Ela quer que você tenha dó de você mesmo. Eu quero que você cresça consigo mesmo.

Se quer me confundir com alguém, me confunda com o Aprendizado. Ele chega sempre um pouco antes ou um pouco depois de mim, mas nunca se atrasa. Ele é meu parceiro; só funcionamos se o outro estiver por perto.

Não vou me alongar muito mais. Uma hora ou outra você vai me conhecer de perto e vai entender tudo isso. Seremos grandes amigos, pode ter certeza. Mas, enquanto isso, deixa eu só me apresentar.

Oi, meu nome é Oportunidade.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O que acontece depois da solidão?

Falem o que quiserem, mas não acredito que alguém seja feliz de verdade sozinho. Todos nós precisamos de um ombro amigo, de uma palavra de carinho ou do afeto de uma outra pessoa. Isso é natural.
Mas não sei se é tão natural assim o medo de ficar sozinho.

Lembro do autor Nick Flynn falando algo assim numa mesa redonda sobre auto-conhecimento e a função da solidão nessa busca. Ele pontuou como as pessoas evitam essa sensação a qualquer custo, mesmo sem saber de verdade o que nos espera além dela. 

"Em qualquer momento que nos encontramos sozinhos, recorremos  à mensagens, ligações ou internet numa tentativa de abafar a sensação de que estamos de fato sozinhos. Mas é só uma sensação, que como qualquer outra também vai passar quando nos acostumarmos com ela. Mas sequer arriscamos senti-la, com medo do que ela pode nos oferecer. Mas o que acontece depois da solidão, afinal?"

Esperando um amigo chegar no bar ou em qualquer momento inesperado sem companhia, o comportamento padrão tem sido ver o que há de novo no Facebook ou no Whatsaspp, como se o videozinho que juro-que-é-super-interessante ou o grupo que chove-mensagens-sem-noção não pudesse esperar até você chegar em casa. Sendo bem honesta, várias vezes fiz até pior e me peguei simplesmente encarando a tela do celular, sem nada pra ver ou me entreter. Parando um pouco pra pensar, percebi que o quê eu não queria era parecer sozinha ou entediada ou ficar observando outras pessoas acompanhadas. E, enfim, me sentir sozinha.

Mas ultimamente tenho contrariado esse meu comportamento. Com o celular na bolsa, curto um drink sozinha sem sentir dó de mim mesma ao ver outros acompanhados. Na verdade, até descobri que é divertido observar  outras pessoas. É lindo notar como somos tão parecidos e ao mesmo tempo diferentes. Indo mais além, mais interessante ainda é quando um dos observados inicia uma conversa ou eu mesma o faço. Sempre tem algo diferente pra saber. E mesmo quando não há ninguém por perto ou puxando papo, aprendi a dar espaço para meus pensamentos irem e virem, observando-os com cuidado e até bom humor de vez em quando.

Nem sempre é uma experiência incrível daquelas que valem a pena contar pros amigos, mas sempre acrescenta algo.  A rotina ganha um gostinho de novidade, o olhar fica mais leve, e a alma cresce. Aprendo sobre mim mesma com os outros, aprendo sobre os outros comigo mesma.

Sem esperar o celular apitar ou qualquer pessoa ligar, dou espaço para o novo chegar até mim. E nada mais novo do que cada vez mais descobrir o prazer de sua própria presença e das pessoas à sua volta, mesmo que não faça ideia de quem você mesmo ou os outros sejam. 

Depois de deixar a sensação de solidão passar, percebo que nunca estamos sozinhos. Só precisamos de um olhar atento, uma mente pensante e um coração batendo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Uma Crônica de Café, Starbucks e Empatia

*Aos amigos do Starbucks, que hoje me serviram café com inspiração.

Estava passando por um bloqueio pra escrever. Segui o procedimento padrão pra resolver: muffin, café e Starbucks.
Nem sempre o atendente está no melhor humor, mas nunca atendem mal ou são grossos. Na verdade, eles tão fazendo a mesma coisa que eu: sobrevivendo da melhor maneira que podem a mais um dia de trabalho. E pior que eu, a um dia de trabalho no shopping mais "pop" da cidade. Ok, eles se submeteram e escolheram isso. Mas não escolheram e nem precisam ouvir palavras que me fazem ter vergonha de pertencer à raça humana.

"Estranho, né, sempre que venho aqui me atendem de má vontade. Po, sai daqui, velho, vai pra rua, vai se drogar, mas larga esse trabalho de merda", disse o cliente que se senta à minha frente, como se fosse o único ser humano importante no estabelecimento inteiro. Ergui os olhos, mas determinada a me concentrar no meu muffin de banana.
Dois minutos depois, um atendente chama "Leo!", referente a um pedido pronto. Em seguida, a criatura responde "Eu!!!" e continua sentada com pés alegremente balançando na cadeira, como se esperando para ser atendida à mesa. Pra mim, foi como voltar pra sala da quarta-série, tendo que aguentar a piadinha diária do engraçadinho que senta no fundão. Mas agora ao invés de arranjar briga na diretoria, respirei fundo.
"Seu pedido, senhor."
"Ahhhh, aí sim! Eles gritam meu nome, eu não posso gritar de volta?" respondeu ele sarcasticamente a caminho do balcão, enquanto seu colega de mesa me olhava rindo como se não acreditasse no amigo. E, realmente, era inacreditável.

Agora vão me falar que cliente tem direito de reclamar por um serviço mal feito. E sim, temos esse direito. Mas, antes disso, qualquer ser humano no mundo tem direito a respeito. Você foi atendido mal? Chame o responsável, explique, oriente. Mas se correr atrás do que você merece e deseja implica em armar o barraco, subir o tom de voz e desprezar o trabalho do outro, repense. Sugiro até que primeiro pratique o exercício básico de respiração, que eu mesma fiz nessa situação. 

Se quiser arriscar ir um pouco mais além, crie o hábito da empatia. E nem precisa de muito esforço. Um "obrigado" olhando nos olhos já ajuda a perceber que, assim como você, ninguém consegue estar de bem com a vida ou muito menos com o trabalho todo dia. E quando você receber um "de nada", seja ele acompanhado por um sorriso ou por um olhar perdido, recorde-se de que pelo menos a sua parte foi feita. Sente e espere seu pedido consciente de que sua gentileza inevitavelmente vai gerar uma outra, e muitas vezes de maneira bem inesperada. Pode ser do próprio trabalhador que fará melhor seu trabalho numa próxima vez; pode ser de você mesmo, que passará seu dia mais leve e sem ressentimentos; ou até quem sabe de uma aspirante a escritora que estava na mesa ao lado esperando por uma história pra contar.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Ser feliz não é uma competição

Estranho como o ser humano realmente se acostuma com tudo nessa vida. 
Particularmente, tenho percebido muito como a gente está acostumado se cobrar demais e inevitavelmente sofrer quando não conseguimos corresponder a essas expectativas. Mas já pararam pra se perguntar daonde vem todas essas metas e objetivos impossíveis que gostamos de impor a nós mesmos? Por que tanto esforço? Por que parece que nunca é o bastante? Por que tudo tem que ser tão sofrido?

"Tenho que ser o melhor. Não quero decepcionar ninguém."

Temos medo de sermos menos do que outros esperam de nós. Temos medo de ser o que somos e isso contrariar a ideia alheia. Temos medo de sermos nós mesmos "demais". Mas tanto medo de algo que nem conhecemos direito me soa tão irracional quanto uma criança com medo de escuro no próprio quarto. Quando alguém finalmente acende a luz, o medo se dissipa, se perde, se racionaliza. A diferença é que a nossa luz interna só nós mesmos podemos acender. E que o caminho até lá parece inconcebível de vez em quando. 

Por outro lado, pode ter certeza: a situação e o medo uma hora ou outra vão passar. Mas você vai estar pra sempre acordando no mesmo quarto consigo mesmo. Não dá pra fugir da nossa própria presença. 
Então não custa nada tentar. 
Tente não esperar tanto de si mesmo. Não, você não vai deixar de sonhar alto. Sim, você vai continuar trabalhando duro pra fazer seus sonhos se realizarem. Só que sem pressão. Sei que você acha que precisa dela. Acha que ela é que te faz tirar a bunda do sofá e fazer sua vida acontecer. Mas pode parar de achar. Não tem problema. Solte as rédeas e abrace a si mesmo para perceber que não é a pressão, mas a sua infinita vontade de ser feliz que te move. 

Agora sim, pode segurar firme. Acenda a luz. E quando você menos esperar, o seu melhor lado, aquele mais determinado, apaixonado, consciente e forte, vai conseguir transparecer muito mais facilmente. Tudo que ele precisava era do espacinho na sua vida que o medo fazia questão de ocupar.

Desocupe sua mente do que não te faz evoluir e preencha com uma 
boa dose de eu-me-perdoo-por-não-ser-perfeito. Não garanto que seus resultados instantaneamente vão exceder sua expectativa ou a dos outros. Mas você não precisa mais ser o melhor de todos mesmo. Só precisa ser você mesmo, sempre evoluindo e aprendendo não importa a situação. E esse seu eu, sem dúvida alguma, te trará mais contentamento e felicidade do que o melhor de qualquer outra pessoa.
Ser feliz não é uma competição. É uma opção.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

"A avaliação dos outros não é nenhum guia pra mim"

Adoram falar pra gente não se importar com o que os outros dizem. "Seja você mesmo e pronto", eles dizem. Mas esse conselho já é contraditório por si só, sabe? A partir do momento que dou crédito ao seu conselho e o aceito, eu já estou me importando com o que você pensa de mim. Então acho meio utópica essa ideia de absolutamente não se importar com o que as pessoas pensam de você. Não tem como; se eu gosto e me importo com alguém nesse mundo, acabo de alguma forma me importando com a imagem que a pessoa tem de mim. E não tem nada de errado nisso.

Na real, acho que a indiferença em relação aos outros pode ser tão prejudicial quanto a obsessão pelo que eles pensam.
Tentar desesperadamente agradar aos outros, sem ouvir seus próprios desejos e verdades, é suicídio. São milhares as conceituações que as pessoas tem sobre o que te faria ser uma "boa pessoa". Tentar atender a todas essas expectativas só nos deixa ainda mais perdidos por aí e, pior ainda, perdidos de nós mesmos.
Agora, só ouvir a si mesmo, exclusivamente, não deixa de ser um pouco de soberba da nossa parte. Como se alguém conseguisse entender sozinho todas as vozes e sentimentos que se passam dentro da gente, sem precisar de ajuda de ninguém. Sim, acredito que temos dentro de nós as respostas para quase tudo que precisamos. Nosso potencial interno é infinito, mas ainda pouco explorado. Por isso que também creio que às vezes uma mãozinha de fora pode ser útil pra gente encontrar um pouco mais facilmente esse caminho interno às nossas respostas.

Uma frase (que dizem ser) do Bruce Lee cai bem aqui: "A avaliação dos outros não é nenhum guia pra mim." Ele não foi utópico ao dizer que não se importa com nada do que acham dele. Não. Ele fala sobre guia e diretriz, coisas bem diferentes do que dar ou não importância. 
Esperar ser aprovado por todos é ser errante em meio a tantos caminhos, sem nunca encontrar um que lhe sirva e lhe satisfaça de verdade. Somos indivíduos diferentes e únicos demais para acreditarmos que o mesmo caminho que serviu ao outro servirá a mim automaticamente. Nossa força interna é a única capaz de nos guiar em direção à nossa própria verdade, no nosso próprio caminho. Mas essa não precisa ser uma caminhada solitária. Nossos caminhos individuais são únicos, mas isso não significa que não se cruzem. Mantenha sua mente aberta e tire proveito desses encontros. Sempre haverá algo a ensinar e a ser aprendido. Mas entenda que nesse emaranhado ninguém pode julgar, avaliar ou guiar melhor do que quem percorre cada caminho.
Tenha mente aberta ao que os outros podem te ensinar e ajudar, mas sempre com o coração inteiramente aberto a tudo que você tem a aprender com você mesmo.

sábado, 12 de julho de 2014

Definir-se pelo seu trabalho é o mesmo que limitar-se

Tenho a data de entrega gritando num ouvido.
A voz do meu chefe no outro.
E dez mil vozes dentro de mim exigindo nada mais do que a perfeição.
Haja trabalho. Mas pra quê mesmo?
Ok, as contas não vão magicamente desaparecer no final do mês e a comida não vai milagrosamente brotar no seu quintal cimentado. Mas chega num ponto em que não estamos mais trabalhando só pra pagar conta ou botar comida na mesa.
Nessa hora, quando já estamos descontando o estresse até no cachorro atravessando a rua, parece bem mais provável que estejamos trabalhando para provar nosso valor.

É o nosso valor profissional recaindo sobre o pessoal. Como se ser um profissional competente me fizesse automaticamente uma pessoa melhor. Mas foi assim que a gente aprendeu. 
Quando a tia do jardim de infância perguntava sobre nosso futuro, não queria saber dos lugares ou pessoas que queríamos conhecer. Ela perguntava sobre o que queríamos ser, e um "ser" totalmente restrito à nossa condição profissional. E daí a escola, o colégio, a faculdade, a vida toda passa a girar em volta de uma carreira que supostamente vai ditar nosso nível de sucesso e satisfação pessoal.
E quando finalmente surge o primeiro emprego e a carreira começa a se concretizar, a gente não hesita a cair de cabeça no trabalho e deixar que todas as outras áreas da nossa vida girem em volta dele. 

E a pergunta surge de novo: pra quê mesmo?
Pode ser sincero. A sensação de estar estressado, ocupado e sobrecarregado supre todas suas necessidades de reconhecimento, afeto e satisfação? Se sentir exausto te traz felicidade?
Pelo menos no meu caso, me recuso a responder que sim. Me recuso a acreditar que o trabalho é capaz de nos definir. 

Cada um tem sua vocação, e o trabalho pode ser uma maneira linda de explorá-la. Mas muitas vezes temos mais do que vocação; temos várias, mesmo elas sendo contraditórias ou não se aplicando na mesma profissão. E, ainda assim, todas podem servir para nosso crescimento pessoal, ao mesmo tempo que contribuem para a sociedade. Por que não ser engenheiro durante a semana e técnico do time de futebol do bairro no domingo? Por que não achar 1h de intervalo entre uma aula e outra pra tocar violão no hospital da cidade? E por que não fazer aquelas aulas de dança no seu tempo livre da empresa?

Somos dez mil coisas dentro de uma só. Permita que seu trabalho seja parte de quem você é e o faça com muito amor. Mas não se limite. Não se esconda de tudo que você é.
Explore-se. Descubra-se.
E seu valor próprio será muito maior do que seu chefe ou seu salário jamais poderiam te dar. 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A incrível geração de pessoas querendo se rotular

É interessante essa onda de opiniões que tá rolando agora no Facebook. Tem espaço pra todo mundo falar, ao mesmo tempo que incentiva esse mundo a ler e se informar mais.
Mas, assim como no mundo real, não dá pra virar esponjinha.

Na semana passada, li "A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem NÃO quer", da Ruth Manus, e achei uma perspectiva legal. Já faz um tempo que eu vejo casamentos terminando porque o marido é ciumento e inseguro demais pra deixar a mulher voar. 
Daí ontem também li "A incrível geração das mulheres chatas", da Mariliz Pereira Jorge, e achei uma resposta justa. Porque também canso de ver umas meninas por aí que só sabem reclamar de homem, achando que só eles estão errados.

Os dois pontos de vista são válidos. PONTO. Mas nós, como leitores, temos que ter uma perspectiva que vá além de apenas duas visões ou de um só assunto. Então essa sou eu tentando ampliar minha percepção.

Sim, a mulherada tá mais livre do que foi uns anos atrás e tem muito homem se intimidando por causa disso. Mas não me parece que as pessoas tem se importado em ouvir a opinião masculina sobre isso. Será que essa geração independente de mães solteiras faz-tudo tá realmente criando filhinhos querendo esposinhas pra ficar dentro de casa cuidando dos filhos? Sério que as mulheres estão fazendo isso a si mesmas?
Por outro lado, sim, tem muita gente avulsa por aí, e por inúmeras razões que vão muito além da carreira ou do estilo de vida que as mulheres estão levando. Mas definir que alguém está solteira porque é "chata" ou que é "cool" porque tem um homem na cozinha preparando a janta, aí é muito voltar pra quarta série.

Se somos realmente uma geração de mulheres independentes ou chatas ou bem sucedidas ou bem resolvidas, por que raios estamos tentando nos definir com base no nosso status de relacionamento? E pior, porque estamos nos definindo como algo oposto ao universo masculino? 
Do jeito que eu vejo as coisas, estamos mais parecendo uma geração perdida de homens E mulheres. Sem entender ao certo o valor das coisas, tentamos grudar um rótulo enorme em cada uma, mesmo sem ter provado ou ponderado a respeito de seus defeitos e qualidades. Porque é bonito ter opinião forte sobre tudo. Porque ponderar leva tempo, cabeça e humildade.

Então antes de rotular o outro como casadinho, chato, mulherzinha ou machinho, vamo se enxergar como ser humano. Vai ver assim, quem sabe, a gente entenda que não dá pra saber o valor das coisas só pela aparência.
Tem que sentir na pele pra saber.

Texto da Ruth: http://blogs.estadao.com.br/ruth-manus/a-incrivel-geracao-de-mulheres-que-foi-criada-para-ser-tudo-o-que-um-homem-nao-quer/

Texto da Mariliz: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marilizpereirajorge/2014/06/1476515-a-incrivel-geracao-das-mulheres-chatas.shtml

quinta-feira, 26 de junho de 2014

É Bonito Ser Teimoso?

Aprenda a ler nas entrelinhas. Algumas regrinhas básicas estão implícitas por aí pra te ajudar a sobreviver no mundo.
Seja sincero sempre, mesmo se te acharem um grosso. Se não conseguir, apele para indiretas no facebook.
Tenha amor próprio. Deixe sempre que o outro corra atrás e não o ame demais.
Seja autêntico, não se deixe influenciar. Tenha suas próprias ideias, até as que não te deixam mais tão contente.
Agora, cá entre nós e fora das entrelinhas, parece que virou bonito ser teimoso. É motivo de admiração ser alguém que tem controle da coisas; que perdoa, mas não se permite esquecer; que respeita, mas no fundo mal sabe conviver; e que sabe ouvir os outros, mas nunca dá o braço a torcer.
Ao hino de "sou o que sou e ninguém vai me mudar", o ego reina sem restrições. E ainda recebendo aplausos.
Enquanto isso, em algum lugar entre sua pose rotineira e sua próxima noite de sono, sua essência chora. Ela quer ser ouvida, mas não vai gritar. Ela vai apenas continuar ali, como sempre esteve, sem nunca deixar de olhar por você.
E você, de frente pro espelho e cego pelo orgulho, idolatra sua própria imagem, mas não enxerga essa tal essência. Até porque enxergá-la significaria admitir que você não é tudo que pensa.
Mas a vida sabe o que faz. Nossas escolhas nunca geram consequências que não correspondam com as nossas intenções. E daí uma hora a máscara cai, e todo o sentimento de isolamento, de impotência e de profunda tristeza vem à tona. Você pode fugir do olhar dos outros, mas não pode fugir de si mesmo. Sua dor está ali e exige ser sentida. E quando você se permitir sentir, sua essência olhará no fundo dos seus olhos e dirá o quanto sentiu sua falta.
Não que faça parte da nossa essência encontrar tanta infelicidade. Mas às vezes a gente não vê outra escolha a não ser chegar no fundo do poço, pra daí então encontrar a força que impulsiona a nossa subida de volta.
Essa é uma força não te deixa desistir de si mesmo. Ela entende que as coisas do mundo não estão sob nosso controle. Ela compreende que o perdão é a única maneira de libertar a si mesmo através do outro. Ela sabe que cada ser é único e por isso tem um caminho único a seguir. E ela reconhece que, por mais diferentes sejamos, somos todos um só e todos merecemos a felicidade.
Essa força é quem você é de verdade. Escute-a, enxergue-a, sinta-a.
Não tenha medo de amolecer, suavizar ou mudar seu coração.
Atire as entrelinhas no fundo no poço.
E suba.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Caminho a Seguir

Ayrton Senna já pregava a mensagem: se você acreditar, desejar e trabalhar duro, o seu desejo inevitavelmente vai se tornar realidade. Mas, entre tanta crença, desejo e trabalho, são inúmeros os caminhos que podem ser seguidos. Alguns são mais suaves e tranquilos, sem imprevistos. Outros mais sinuosos e perigosos, mas por onde continuamos seguindo em nome da força dos nossos sonhos.
Toda essa jornada sinuosa fica muito poética quando já alcançamos nosso objetivo e fazemos questão de glorificar nosso sofrimento. Parece que vira lei da física: conquistas e vitórias só vem através de sofrimento e sacrifício.

Mas vai ver não precisa ser assim.
O caminho para alcançar o quer que represente a nossa felicidade não precisa ser tão dolorido. Por mais que tenhamos foco e determinação, caminhar sem olhar pros lados, sem se questionar e sem se divertir pode tirar mais da metade do aprendizado e - por que não? - do prazer que aquela jornada poderia nos proporcionar.

Não custa nada olhar pros lados para apreciar a vista ou as pessoas em volta. Só agrega valor ao caminho e, consequentemente, ao objetivo.
Se questionar a respeito do quê você é capaz de fazer pra chegar "lá" ou até se você realmente quer chegar "lá" também é saudável. Não tem problema mudar de ideia no meio do caminho; sua bagagem apenas é transferida, nunca perdida.
E faça o favor a si mesmo de arranjar motivos pra rir e se divertir em meio às adversidades. Se é pra caminhar sem alegria, melhor parar por aí mesmo.

Não estou dizendo que nossos objetivos se concretizam num passe de mágica, fácil fácil. Estou só sugerindo que esse "difícil" não necessariamente é um sinônimo de sofrimento, penitência ou tristeza.
Não adianta nada ter orgulho de seguir uma jornada se ela não te traz felicidade. Deixemos nosso ego de lado para perceber que um caminho que não alimenta nossa alma e nossa essência é um caminho sem rumo. E que, sim, a gente perde o rumo de vez em quando. 

Mas é você quem faz seu caminho. É a maneira com que você traça seu caminho que determina seu destino. Então, batalhe, corra atrás, faça acontecer. Mas também olhe pros lados, se questione, sorria. E tenha certeza de que enquanto você cultivar amor e alegria pelo simples fato de estar vivo, todos os caminhos te levarão à felicidade.
Qual deles você quer seguir?

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Se o amor da minha vida demora a chegar...

Nos últimos tempos, o assunto mais recorrente da minha escrita tem sido amor próprio, até com um certo tom de auto-suficiência. E esse seria um ótimo assunto pra falar no dia dos namorados, até porque muito do que eu escrevo é pra eu mesma ler.
Mas não vou fazer isso hoje.
Vou usar a mesma coragem tenho de superar os meus problemas para também encará-los de frente, sem máscaras.
Sim, rejeição está longe de ser o fim do mundo.
É verdade que ninguém pode nos salvar além de nós mesmos.
E claro que a maior carência que temos é pelo nosso próprio apreço.
Mas isso não quer dizer que outras vozes não existam. Existem fora da gente, nas propagandas, nos livros, nos filmes. E também dentro da gente, nos traumas, nos medos, no coração.
Tem vezes que é um sussurro, mas já é o bastante pra ecoar pelo quarto inteiro por horas.
"De que adianta eu estar bem comigo, se ninguém está disposto a estar bem junto comigo?"
"Será que um dia eu vou conseguir parar de criar tantas barreiras ao me relacionar?"
E a clássica: "Existe alguém no mundo pra mim, afinal?"
São perguntas que não pedem por respostas. Só pedem por questionamentos sem fim, noites em claro e algumas lágrimas de vez em quando.
Mas são só pensamentos; da mesma rapidez com que vem, também podem ir embora.
Eu escolho deixar eles irem.
Não é como se um príncipe encantado ouvisse as minhas vozes e viesse correndo ao meu resgate. Bem pelo contrário. Deixar esse tipo de pergunta me dominar só me traz pra baixo e afasta qualquer cara legal que pode um dia, quem sabe, talvez significar algo maior na minha vida. Se eu não gosto de estar comigo mesma assim, quem dirá outra pessoa.
Mas eu não sou esses pensamentos. Sou feita de algo infinitamente maior do que meras perguntas.
Eu me desapego dos pensamentos que me trazem pra baixo, pelo amor e pela vida que vibram dentro de mim. E mais do que isso, eu me comprometo a fazer com que eles vibrem cada vez mais, não importa quem esteja ao meu lado.
Se o amor da minha vida demora a chegar, eu escolho usar meu tempo para ser o meu melhor.
E eu escolho ser a mulher da minha vida.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Ele disse não, e agora?

Vocês estavam os dois namorando há dois anos, uns pombinhos lindos apaixonados. Até que ele disse "não quero mais", e pronto. Do topo do mundo, você passou a se sentir a última bolacha do pacote. 
Vocês estavam os dois se conhecendo, explorando o jogo e a sinceridade entre um beijo e outro. Até que ele disse "não quero um relacionamento", e deu. Da esperança ressurgindo do túmulo, o que sobrou foi só as cinzas.
Daí você estava linda na balada do último final de semana, olhando pro carinha gato no bar. Ele olha também, mas acaba chegando na sua amiga. Da confiança do salto alto, você se esborracha no chão.

No namoro, no carinha ou na balada, a pergunta não quis calar:
"O que tem de errado comigo, afinal?!"

Com certeza os homens também devem se perguntar isso de vez em quando, mas eu particularmente acho o caso das mulheres mais complicado. Somos socialmente treinadas para rejeitar, não para sermos rejeitadas. É ele que deve puxar papo, pagar a conta, convidar pro motel. A nossa posição é passiva, de sim ou não, quem sabe. Tomar um não e passar pra próxima é uma lição que os homens aprendem todo final de semana. A lição feminina fica só na escolha entre virar a cara ou tascar o beijo.

Por outro lado, para o bem de todos e felicidade geral da nação, as mulheres finalmente estão tomando mais iniciativa pra ir atrás do que querem. Todo mundo sai ganhando; as posições tem a chance de se alternarem e se equilibrarem, sem pesar pra ninguém. Mas a mulherada em geral (e eu me incluo nessa) não pode esquecer que, pra aprender a correr atrás, também tem que aprender a ganhar o "não".

Claro, com uma rejeição seguida da outra, nada mais saudável do que se questionar a respeito de si mesma e de suas escolhas. Mas não levemos a rejeição por si só tão a sério.
Sim, vocês foram felizes namorando, mas acabaram seguindo caminhos diferentes. Não é culpa sua que acabou.
É verdade, tinha tudo pra dar certo, mas esse não é o momento do cara. Não tem nada que você possa fazer.
Claro, a sua produção tá um arraso, mas você não faz o tipo do cara. Acontece.

Refletir sobre a rejeição é uma atitude que só acrescenta, desde que sem vitimização. Se questione se você é interessante, se está aberta ao novo e se gosta de verdade da pessoa que você é. Mas um relacionamento, seja ele da natureza que for, é feito de duas pessoas. Os dois devem dizer o sim. Mas se ele disser não... fazer o quê? Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. Mas nunca, nunca deixe de dizer sim a si mesma.

sábado, 31 de maio de 2014

Mulher-Maravilha

Pode ser meio audacioso da minha parte, mas se eu pudesse mudar uma coisa no mundo, seria a injustiça.
Não consigo ver uma amiga querida chorando por causa de alguma sacanagem de um babaca qualquer. Minha vontade é pegar o endereço do cara e mandar uma bomba pra explodir na cara dele.
Me revolta por dentro ver alguém jogando qualquer papelzinho de bala na rua. Tenho que controlar a minha vontade de parar a pessoa ali mesmo e não deixar ela se mexer enquanto não pegar o papel do chão.
Pior ainda se vejo um assalto ou roubo no meio da rua. Na minha cabeça, tiraria meu disfarce da mochila e sairia correndo atrás do bandido feito Mulher-Maravilha.
Mas daí acordo pra realidade e me dou conta de que não tenho super-poderes pra mudar nada nem ninguém só porque eu quero. No fim do dia, ainda sou só mais uma nesse mundo onde nem sempre o bonzinho recebe o que merece.
Então fiquei pensando no quê meu lado super-herói faria por mim se me visse caminhando por aí.
Minha Mulher-Maravilha não aceitaria os meus medos. Mandaria todos eles a uma quarentena em outro planeta, junto com meus traumas e lágrimas, para serem libertados só quando se transformarem em amor.
Ela se revoltaria com a falta de apreço que tenho por mim mesma. Com uma máquina do tempo, ela me mostraria como minhas ações tocaram a vida das pessoas à minha volta, mesmo que eu não tenha percebido  na hora.
Melhor que tudo isso, meu lado super-herói me faria entender que as maiores injustiças do mundo são as que fazemos com nós mesmos.
A injustiça só existe no mundo porque a cultivamos dentro de nós. Não precisamos de super-heróis; somos humanos. Somos maiores que nossos medos. Temos o poder de ser sempre melhores do que no dia anterior. Somos mais poderosos do que jamais imaginaríamos. 
Estamos longe de mudar o mundo, mas sempre muito perto de mudar a nós mesmos. 

domingo, 25 de maio de 2014

Bem me quer, mal me quer

Todo mundo já viu esse filme.
Você manda mensagem, marca encontro, corre atrás. Ele não nega sua atenção, mas também não faz a menor questão de devolver. Quando você larga de mão e desiste, aí ele resolve acordar e correr atrás do prejuízo.
Mas daí ficou tarde. O assunto já chegou na mesa de bar, e as amigas concordam que o cara é um idiota.
Daí a história muda de lado.
O outro carinha todo dia quer saber de você, quer sair, quer contar da vida. É, ele é legal, mas você não consegue evitar os olhos virando toda vez que chega uma mensagem dele. Até que ele se toca, e as mensagens finalmente cessam. E daí você também finalmente admite que alguma partezinha de você gostava de receber toda aquela atenção.
Ainda assim, volta pra mesa de bar, e as amigas concordam que esse outro cara é carente demais.
De idiotas a carentes, o motivo para se relacionar parece ser o mesmo: se alimentar da energia do outro até que nossa auto-estima transborde. Depois disso, tanto faz.
É simples assim, então? Em vez de nos relacionarmos de verdade, estamos brincando de bem-me-quer-mal-me-quer de acordo com a nossa própria conveniência?
Uma hora essa brincadeira cansa, sabe. E da exaustão acabo percebendo que não somos tão diferentes quanto achávamos. Na busca por atenção e senso de auto-importância diante dos outros, todos nós somos carentes. E isso não é bom nem ruim; apenas nos coloca como iguais.
Todos queremos atenção. Todos queremos sentir que importamos pra mais alguém ou até "alguéns". Isso faz parte do ser humano.
Mas enquanto continuarmos buscando isso muito mais numa outra pessoa do que em nós mesmos, todos nossos relacionamentos (inclusive o que temos com nós mesmos) estão com os dias contados e infelizes. 
O carinha ou menina não estão ali só pra suprir minhas necessidades. O outro não está ali só pra me receber, consolar e dizer que pessoa incrível eu sou.
O sentimento de carência, esteja ele suprido ou não, não deixa de ser uma forma de egoísmo. Você não é o centro do universo. O mundo não está aí pra dar pra mim nem pra você que a gente acha que precisa pra ser feliz. O mundo está aí pra percebermos que, na verdade, já temos tudo que precisamos. 
Somos todos carentes.
Carentes de nós mesmos.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Nós, os Românticos Irremediáveis

Assistimos filmes e choramos torcendo pro mocinho alcançar a mocinha no final. Lemos livros e torcemos para que aquelas personagens perfeitas existam na realidade. Ouvimos músicas e ficamos sonhando com a letra e melodia, mesmo que não haja nenhum correspondente real no momento.
Nossa exposição romântica já vem desde a infância. E daí crescemos e nos deparamos com a realidade.
O carinha não ligou no dia seguinte.
Ele esqueceu da data.
Não apareceu no dia do encontro.
E não deixemos a culpa só pra outra parte.
Falar "eu te amo" não é tão simples quanto você imaginava.
Você não quer largar seus antigos hábitos só porque ele pediu.
Se entregar é mais difícil do que parecia.
E aonde foi parar toda aquela história de entrega e certeza em que tudo se tornaria mais fácil e simples só pelo fato de haver amor?
Esse sonho romântico era realmente nosso? Ou foi só uma ideia que o cinema, a literatura e a música inseriram no nosso inconsciente?
Não sei se um dia vou saber uma resposta. Realidade de fato e realidade interna são dois conceitos que se refletem e se fundem constantemente. É como se perguntar se o ovo ou a galinha veio primeiro.
Não consigo entender as origens, mas talvez consiga compreender o destino. Você pode não ser um romântico como eu admito ser, mas talvez pra todos nós seja uma boa hora pra deixar o orgulho e o ego de lado.
O amor não é exatamente como você esperava. Abrace o inesperado.
Você não consegue colocar suas necessidades nos braços de outra pessoa. Pare de achar que só você tem problemas ou soluções.
Colocar-se em primeiro lugar é prioridade número um. Aprenda a amar a si mesmo, mas se colocando no lugar do outro.
Tudo isso é especulação, na real. Eu não tenho nem metade de todas as respostas.
Mas ouso dizer que, sim, o amor é maior do que tudo. Não só o amor pelo seu parceiro, mas o amor por estar vivo, por ser capaz de amar e por ser capaz de mudar.
Se um dia a gente compreender de verdade esse amor, talvez até a ideia de romance também se transforme em algo muito maior que o nosso ego hoje consegue enxergar.
E isso nenhum filme, livro ou música precisava me ensinar. 
No meu euzinho mais profundo e tímido...
Eu sei.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Declaração de Amor

Já faz um ano que nos conhecemos. Parece que foi ontem que senti que já éramos companheiras há muitos e muitos anos.
Dá pra dizer que foi amor à primeira vista. Você ali, toda brilhante e esbelta me esperando no fim da estrada, e eu rodando por todo lugar sem ter certeza se você seria tudo que eu esperava. 
Mas você aquilo tudo e muito mais, minha querida.
Nem precisava se esforçar pra me ver sorrir. Era simplesmente a ordem natural das coisas. Você, eu, e dez mil motivos pra ser feliz.
Quando eu precisei, você não hesitou em me dar abrigo. E nem precisava de teto; era só andar pelas suas ruas, cruzar suas esquinas, descobrir seus caminhos que eu já me sentia em casa.
Mas é verdade que também brigamos. Eu sou teimosa, você sabe. Nem sempre era fácil ficar longe da família. E daí você se entristecia junto, inundava todas as ruas e me forçava a encarar suas lágrimas. Mas você sabe como me acalmar: um café quentinho, um abraço forte, e já fazíamos as pazes.
Me mostrou quem eu era de verdade. Perto de você, eu sabia quem eu era e tudo que eu era capaz. Nada era impossível. Mas também me mostrou pessoas, histórias e músicas que só você poderia guardar com tanto carinho. Tudo numa coisa só.
Uma coisa só.
Mesmo a milhares de quilômetros de distância, nunca nos separamos. Você faz parte de mim assim como eu também faço parte de você.
Ao amor, qualquer obstáculo é puramente ilusório. E meu amor por você é o mais puro e verdadeiro que existe, querida.
Eu te amo muito, New York.
Para nós, nunca existiu adeus.
Até logo, meu amor!

sábado, 10 de maio de 2014

Quase

Acho que todo mundo tem uma pá de momentos-chave na memória. Aqueles do tipo que todas as mesas viraram, e nossa história tomou um rumo totalmente inesperado. Se a nossa vida fosse um filme, com certeza eles que seriam as cenas mais esperadas e mais emocionantes. 
Mas, na real, esses dias fiquei pensando sobre a importância de todos os outros momentos que acabam ficando só como cenas extras nesse nosso filme; aqueles que poderiam ser chave, mas não foram: os momentos-quase.
Sabe aquela chance de morar no exterior com o seu primo de terceiro grau? Melhor não.
E aquela hora que vocês finalmente conseguiram ficar sozinhos e o beijo não saiu da sua boca pra dele? Secou.
Ah, e lembra do vestibular daquela faculdade lá onde Judas perdeu as botas que você passou e nem deu atenção direito? Outro bixo pegou.
Foi por pouco, mas foi quase nada.
E quanto ao agora? O quê só precisa de um "sim" pra acontecer na minha vida? O quê falta em mim pra transformar esse "quase" em "chave"?
Coragem, minha gente. É verdade que o medo tem sua função em nos proteger das adversidades, mas somos nós que damos a ele o poder de deixar bem longe da realidade todo o potencial de felicidade que uma nova experiência pode nos oferecer.
Tudo bem ter medo. Tudo bem não querer. Tudo bem fechar portas. Mas antes de dizer "êni-a-ó- til, não", quem sabe pode ser mais interessante e até divertido pensar "por que não?"
E se alguma vozinha dentro de você disser: 
"Quem você pensa que é pra fazer tudo isso?"
Faça o favor a si mesmo de responder: 
"Quem eu penso que sou para não fazer?"

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Cadê o meu sentido que tava aqui?

Hoje me lembrei de como era mais fácil quando estava apaixonada cegamente.
As coisas faziam sentido, sabe? Tudo que eu já havia passado na vida, junto com todos meus tropeços e enganos, tinha um motivo. Tudo me levou até ali, àquele momento; duas pessoas e todas as outras partículas que colidiram em favor daquela paixão. Meu propósito de vida era claro como um cristal, tão simples, tão óbvio. Gravidade, lei universal. Um feito pro outro. Outro feito pra um.
Mas, por algum motivo, às partículas se repeliram. Magnetismo, lei universal. Daí me dei conta que perdi o sentido das coisas. Deixei cair no meio do caminho e ninguém mais viu por aí.
Até hoje não encontrei de novo. Não da mesma maneira. Mas também não deixei de me perguntar:
O sentido das coisas existe por si só, ou somos nós que damos sentido às coisas? Eu que formulei meu próprio sentido apaixonado, ou ele inevitavelmente existiu ali?
Me perdoem os céticos, mas algo dentro de mim se sente tão pequenininho justamente por saber que existe um sentido maior regendo nossas vidas. Mas também me perdoem os crentes, porque um sentido que existe apenas dentro de mim, ou pior, fora de mim, me parece... vazio. 
Vai ver é um pouco dos dois.
Vai ver o sentido real das coisas começa em mim, em como me comporto a respeito do meu eu profundo e o manifesto no mundo. Por outro lado, meu sentido próprio só se concretiza quando o coloco na direção certa, buscando me conectar com o sentido de outras pessoas.
Sim, era mais fácil antes, mas também mais instável e transitório. 
Ir atrás desse sentido maior exige esforço e transformação pessoal, é verdade, já que de "fixo" e "finito" ele não tem nada. Mas também não precisa ser tão difícil assim. 
O sentido das coisas não está em seu conceito inalcançável, mas sim em seu processo constante que é fonte infinita de felicidade.
Buscar eternamente o sentido das coisas através de si próprio e de outras pessoas é justamente o que nos dá sentido à vida.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A Trilha

"Quando você sentir que vai cair, cai antes! Mas cai de bunda."
O terreno era íngreme, acidentado e escorregadio. Ameacei cair várias vezes. Mas não caí feio. De certa forma, acho que o conselho da minha amiga foi o que me segurou. Eu estava preparada pra cair e, mesmo quando caí, não foi a pior coisa do mundo. A gente respira fundo, cai de bunda, ri e parte pra próxima. Abraçar a queda é mais fácil do que tentar se equilibrar de pé a qualquer custo.
Mas por que mesmo assim a gente resiste tanto? Por que é tão difícil assumir que a queda é iminente, mas não necessariamente dolorida?
Nem sempre é tão simples se entregar ao desconhecido. Até pra mim, que muita gente enxerga como uma pessoa prática e destemida. Nem tanto. 
É verdade que tive mais começos e recomeços do que muita gente da minha idade. Mas também tive muitas quedas. E dessas não me lembro de ter tido a capacidade de rir no momento em que aconteceram; eu não estava preparada. Por mais que eu soubesse da possibilidade, eu não acreditava na queda. Mas negá-la ou ignorá-la não a torna menos real, já que você não tem o controle sobre ela.
Eu sei, não ter o controle do que vai acontecer pode ser bem assustador. Qualquer pedrinha no caminho começa a parecer bem maior do que realmente é e te dá vontade de dar meia volta. 
Por outro lado, ter as mãos livres te dá espaço para agarrar muito mais do que aquela doce ilusão de controle que você achava que tinha. O desconhecido também pode ser surpreendentemente maravilhoso. Mas não se apoie demais em nada. Agarre, aprenda e deixe que siga seu caminho. A mão amiga que vai te dar segurança e te ajudar a levantar sempre será você e apenas você.
O tempo muda, o terreno fica mais sinuoso, as pedras se tornam cada vez menos confiáveis. Mas o seu próprio chão tem que estar sempre firme. Se for pra cair, que caia em si mesmo, pronto pra rir e levantar. Que seja. Mas que também seja pra fortalecer cada vez mais a certeza de que nunca vai deixar de procurar novas descobertas para viver e aprender.
Não importa o que aconteça, eu que traço minha própria trilha.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sombras

Nesse último feriado de Páscoa, encarnei o melhor espírito aventureiro com meus amigos e explorei algumas cavernas do PETAR. O parque do interior de SP é simplesmente a maior concentração de cavernas da América Latina, sendo trezentas no total.
Nas seis cavernas que pude visitar, a minha parte preferida sempre era o "apagão": em algum lugar entre a próxima subida e a próxima pedra que você vai escorregar, todo o grupo arranja um lugar pra sentar e apagar suas lanternas. A escuridão é absoluta, o silêncio parece ser palpável e a sensação de isolamento é única; nada mais existe além de você mesmo. É um momento incrível, mas não deixa de ser um pouco assustador pra algumas pessoas.
Tentando dar sentido a essa sensação tão contraditória, me lembrei daquele mito da caverna do Platão. Ele dizia que a falta de percepção do ambiente em que estamos, que vai muito além das sombras que conseguimos enxergar nas paredes da caverna, deturba nossa noção de realidade e nos isola muito mais do que a caverna em si.
Voltando da aula de história em flashback, fiquei pensando na minha própria noção de sombras e realidade.
Por que a gente tem tanto medo de escuro, de silêncio, de si mesmo?
Onde tudo é luminosidade, pouco me questiono. É tudo previsível, sob controle e sabido. Quanto mais luz, melhor. Quando falta energia, quando meus olhos precisam se ajustar para enxergar qualquer vislumbre, a sombra vem a tona. E, com ela, também tudo que eu não quero ver, que ignoro e fujo pra longe. Do contraste entre luz e sombra, minha realidade interna não tem por onde se esconder, tornando claros meus defeitos e minhas qualidades sem distinção.
Não discordo de Platão, mas ouso acrescentar que pior que perder a noção de ambiente ou de sociedade é perder a noção de si mesmo. A partir do auto-conhecimento, sou capaz de aceitar e compreender minha condição atual que, por ser naturalmente passageira, não gera acomodação. E dessa compreensão surge a transformação, que então pode compreender e ajudar a transformar outros à minha volta, modelando também o ambiente em que vivemos.
A escuridão, o silêncio e o isolamento não devem ser temidos, da mesma maneira que não devemos temer a nós mesmos. Conhece-te a ti mesmo, e a luz se propagará.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Encontro

Quando lembro de rezar uma prece antes de dormir, o pai-nosso acaba sendo uma das mais simples e fáceis de lembrar. Mas, quando eu chego na parte do "seja feita vossa vontade", alguma coisa me impede de chegar firme até o "amém". Porque nem sempre faz sentido.
Se a vontade d'Ele deve ser feita e não a minha, por que eu tenho desejos?
Melhor abrir mão da minha individualidade e calar e reprimir de vez meus desejos?
No fim das contas, adianta alguma coisa desejar?
Meditei hoje buscando respostas, tentando entender não só o quê desejo, mas porquê desejo.
Quero uma casa, uma viagem, um amor, uma família, um trabalho lindo, um carro, uma conquista, uma... felicidade. Tudo isso que eu quero tem por trás o princípio simples e básico de ser feliz. Mas me pareceu meio triste colocar nossa felicidade no "quando eu tiver", "quando eu for" ou "quando eu fizer". Nada agora, tudo amanhã. E, ao mesmo tempo, tudo pra ontem.
Por isso, resolvi experimentar diariamente o "eu sou". 
Busco agora as ferramentas para alcançar a felicidade dentro de mim, sempre ao meu alcance. E no momento em que eu atinjo meu ponto de gratidão e contentamento, percebendo o privilégio de estar viva em tudo que há em mim e à minha volta, a felicidade flui como rio que segue naturalmente seu curso até o mar. 
E, a partir desse contentamento natural, a ansiedade silencia, os impulsos se dissipam, e o essencial vem à tona. Meus desejos passam a ser não mais o reflexo dos meus medos e anseios, mas de quem eu realmente e profundamente sou. 
Meus verdadeiros desejos são então a manifestação do que me aproxima mais de mim mesma e dos outros. É uma partícula pequena, porém única e essencial para o todo. E ninguém pode me ensinar como ela é ou me levar até ela; só eu mesma posso descobrir.
E de tão pura e bonita, vai ver essa partícula é Ele em mim e também o que Ele deseja de mim. 
Finalmente, nossos desejos são os mesmos. Meu trabalho está apenas em desobstruir o caminho que leva a esse encontro.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Obrigada

Uma das coisas que eu tenho tentado praticar diariamente é gratidão. Não que eu não fosse grata há um tempo atrás, mas era uma prática que eu guardava mais pras minhas conversas de travesseiro antes de dormir.
Mas pra quê esperar o dia todo pra ser grato por um momento?
Lembro de todas as vezes que tive que acordar uma hora antes e esperar no frio pelo ônibus, e agradeço pelo carro quentinho à minha disposição.
Repasso todas as vezes que me forcei a sair da cama sem nem querer abrir a janela, e agradeço pelo dia começando feliz mesmo que às 7 da manhã.
Recordo de todas as vezes que só queria ouvir a voz da minha mãe dizendo meu nome, e agradeço por ouvi-la me chamando até pelos apelidos mais embaraçosos.
Tudo que eu passei me ajudou a colocar as coisas em perspectiva, para entender e acreditar que sou privilegiada por estar onde estou.
Mas, agora, penso duas vezes e acho injusto agradecer por algo bom só pela comparação com o pior.
Agradecer por um momento só porque ele poderia estar pior é como aproveitar aquela refeição maravilhosa do seu prato preferido só porque tem crianças na África que tem muito menos que isso. O agradecimento acaba se tornando um reflexo da culpa que eu sinto por não poder fazer nada por quem passa fome, que até tira um pouco do gosto da comida. Sim, ter essa perspectiva é importante, mas não é ela que deve imperar sobre a gratidão. 
Cada momento, seja ele "bom" ou "ruim" deve ser vivido em plenitude, com consciência do que está sendo vivido e porquê. Sem culpa, mas sim com a consciência de que tudo tem algo a ensinar.
Então abaixo o vidro das janelas do carro, ligo o rádio e canto como se não tivesse mais ninguém em volta.
E abro os olhos pela manhã, espreguiço o corpo e abro um sorriso dizendo a mim mesma que esse será um dia bom.
Ou largo o celular, a tv, o laptop só pra saber como foi o dia mais comum-nada-de-mais da vida da minha mãe.
A minha gratidão é condicionada pelo apreço que tento colocar em tudo que faço, por entender que toda situação me oferece algo que eu preciso para construir minha própria felicidade, que aí então pode se espalhar para outros à minha volta.
O "bom", o "ruim", o "pior" ou o "melhor" é só uma questão de percepção.
Hoje percebo que todo sentimento, sensação ou situação está a meu favor.
E sou grata por estar viva.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Estamos amadurecendo? Ou endurecendo?

Na minha visão, entre aquelas coisas lindas e antigas que já saíram de linha, em algum lugar entre a maquininha de chiclete da Eliana e o Pogobol do Gugu, está o conceito de alma gêmea.
Foi quase com um sentimento de nostalgia que ouvi dizerem:
"Eu acredito que tem apenas uma pessoa por aí que a gente vai amar de verdade."
Essa noção de "único", "apenas", "um só" passou a me assustar um pouco de uns tempos pra cá. Depois de algumas entregas e perdas, acho que qualquer um começa a questionar aonde raios está esse "um". Ou talvez isso só seja coisa de gente que investe tudo que tem pra fazer um amor dar certo pra sempre, mas no final nunca dá. Gente que fez o que eu fiz.
Mas, antes disso, a noção de "felizes para sempre" me assustou um bocado também. Com tamanho contraste entre contos de fada e realidade, acho que é normal esse conceito parecer meio utópico. Ou talvez também isso só seja coisa que gente que teve seus pais separados logo na infância, com poucos casais duradouros e felizes em volta para contradizer suas raízes. Gente com raízes como as minhas.
Na minha cabeça, essa mudança de conceitos fazia parte de um processo de amadurecimento. Mas vendo alguém dizer aquilo com tanta fé me fez sentir... fria. E esse é um conceito que eu nunca tive de mim mesma.
Será que a gente perdeu a fé pra não sair perdendo de novo na busca do amor?
A gente endureceu pra aprender a lição ou pra se proteger do que a gente presume que já sabe? Ou os dois?
Será que a gente precisa endurecer para amadurecer?
Talvez um faça parte do outro, mas não o defina.
Vai ver que o amadurecer de verdade acontece ao encontrarmos o caminho de volta a acreditar, mesmo depois de aprender a lição. E isso não é retroceder, acreditar cegamente ou ser inocente.
Isso é mudar, mas mantendo nossa essência, mesmo que com alguns elementos novos em volta.
Porque, acima de nossas experiências e traumas e raízes, também somos humanos.
E sim. Nós nascemos para amar.
Amar um só? 
Isso ainda não consegui responder.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Estar solteiro é bom demais; namorar é muito bom.

Fazer seus próprios horários sem depender de ninguém mais é ótimo.
Ter uma companhia certa pra um filme certeiro num domingo chuvoso é delicioso.
Ter tempo pra si mesmo, seja pra fazer as unhas ouvindo Taylor Swift ou passar horas trancado no quarto sem se preocupar com nada além de si mesmo, é perfeito.
Poder cuidar de alguém como se você mesmo, seja só segurando a mão ou fazendo aquele cafuné por horas, é um privilégio.
Aproveitar seus amigos, sem restrições ou preocupações com a hora de chegar em casa ou com o celular tocando a qualquer momento, é libertador.
Chegar em casa e ter um colo te esperando pra dormir, mesmo que só com um pézinho enroscado no teu quando ninguém mais conseguir ficar de conchinha, é reconfortante.
Ter liberdade pra sentir e fazer o quê bem entender, quando bem entender, é maravilhoso.
Ter alguém com quem contar pra o que der e vier, faça chuva ou faça sol, é incrível.

Será que esse é o nosso destino? 8 ou 800? 
De relacionamento versus liberdade, só um pode sair vencedor?
Ou será que é possível ser de alguém, mas sem deixar de ser livre?
Às vezes acredito que sim. Às vezes desacredito e fica claro que não.
Mas entre tantas perguntas meu coração ainda encontra espaço pra ter esperança. 
Quem sabe, em algum lugar do universo, tem alguém que possa me mostrar que, entre o sim e o não, existe um mundo de possibilidades a ser descoberto.
E, melhor do que qualquer pró ou contra, será infinito.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Meninos Perdidos

Você saiu de casa. Passou na faculdade, mudou de cidade, deixou a família pros fins de semana e feriados.
Mas os planos deram errado. A cidade ficou grande demais, os sonhos diminuiram, a grana apertou.
E no fundo até foi algo bom. Há anos você já sentia saudades de casa.
Toda vez que você pegava a estrada de volta a cada 2 ou 3 meses, era a melhor sensação do mundo. A família inteira te recebia de braços abertos, a comida da mamãe já te esperava no fogão, e, só de ver a tua cidade natal, uma sensação familiar envolvia os braços ao teu redor dizendo "vai ficar tudo bem. Você está em casa."
E essa mesma sensação se repetiu agora, na sua volta definitiva por tempo indefinido.
Mas a primeira semana passou, e você não reconhecia mais tão bem teu quarto. Daonde surgiu tanta bugiganga? Cadê meu livro preferido da quinta série? Esse ainda é meu armário?
O primeiro mês passou, e você começou a cansar dessa história de ter horário pra tudo. O que você vai fazer hoje? Mas tem que almoçar alguma coisa, filha. Como assim, não sabe a hora que vai voltar da festa?
Daí veio o segundo mês, e com ele também a saudade da novidade da cidade grande. Não tem nada de novo pra fazer nessa cidade? Por que todo mundo tem que se vestir igual? Por que eu me importaria com o quê os vizinhos pensam?
Quando você menos espera, já fecham 6 meses. E você mais do que nunca sente falta do teu espaço, dos teus horários e da selva de pedra que você deixou pra trás.
Você está em casa, mas ela não é sua. 
Você é bem-vindo, mas ainda se sente visita.
Nem tem coragem de deixar teu quarto com a tua cara. E se pega dizendo coisas como "quando eu tiver minha própria casa..." Mas também não faz a menor ideia de quando, onde ou como isso vai acontecer.
Mesmo sabendo onde você está, não muda muita coisa.
Você ainda se sente perdido.
Quantos passos pra trás vai ter que dar até você finalmente conseguir caminhar quantos passos bem entender no seu próprio caminho?
É difícil dizer, principalmente quando não sei o caminho a seguir. 
Enquanto isso, vai ver é melhor ir notando e anotando o quê não quero seguir.
Não quero deixar de ser livre.
Não quero me perder de mim mesma.
Não quero esquecer de quem eu sou, de onde passei e de onde eu sou.
Boa noite, Terra do Nunca. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

O Guia Tinder - Parte 2

Há um tempo, eu descobri o Tinder. Como qualquer boa solteira curiosa, usei o negócio até cansar os dedinhos de tanto deslizar da direita pra esquerda da tela do meu celular. E até escrevi sobre tudo isso aqui.
E daí eu comecei a cansar de verdade. Cansar de tanto você-pra-cá-você-pra-lá, de tanto esperar o cara responder a mensagem ou até esperar o cara, que já deu match, ao menos começar uma conversa.
Cara, é o Tinder. As pessoas supostamente entram lá porque fica mais fácil conhecer pessoas diferentes, qualquer que seja o relacionamento que elas estão procurando. E, ainda assim, mais uma vez, mesmo com toda a facilidade que uma ferramenta inteligente pode oferecer, as pessoas conseguem complicar.
Ou será que eu é que tô muito simples e direta? 
Tentem vocês também.

O Experimento Ruzzante para Tinder:
1) dê like em todos os caras que forem atraentes logo na primeira foto.
2) acumule muitos matches.
3) confira quantos desses matches vão render uma conversa.
4) confira quantas dessas conversas vão render um encontro.

Meus resultados foram claros: 10% de matches puxaram papo. 0% de conversas levaram a um encontro.
Pode ser muito azar da minha parte. Talvez a posição de saturno alinhada com vênus e a ursa maior não estava a meu favor. Mas a moral é que cu doce já me irrita na vida real, quem dirá brilhando na tela do meu celular a cada hora.
O resultado final foi que deletei o aplicativo do meu celular, mas ainda fiquei com toda essa complicação na cabeça, tentando entender porquê as pessoas ainda continuam usando aquilo.

Consegui resumir minha conclusão em algumas possibilidades:
a) Medidor de gostosura: você não vai ter coragem de realmente marcar de encontrar alguém totalmente estranho. Mas você quer saber se aquele total estranho te acha digno de um encontro. Todo mundo precisa de um empurrãozinho na auto-estima de vez em quando.
b) Irremediavelmente romântico: não importa quantas vezes o match vai dar errado ou dar em absolutamente nada. Você vai se manter firme e forte acreditando no amor/paixão/diversão noturna ao primeiro like. Vai que uma hora dá certo.
c) Deu, deu, não deu, não deu: você mantém seus likes ativos e deixa as fotos bonitinhas no perfil, mas... e daí? Se o cara responder, ótimo. Não respondeu, ótimo também.
d) Esperança é a última que morre: dá uma dor no coração só de entrar na balada e ver só gente torta em volta. Uma tortura. O Tinder, junto com os carinhas charmosos que você nunca vê na tua balada/cidade/país, dá uma esperança de que tem gente decente por aí e de que, não, você não está sendo exigente demais.

Depois de pensar sobre isso e baixar de novo o Tinder pra confirmar minha teoria, vou confessar que me pego pulando de alternativa a alternativa dependendo do momento.
Por outro lado, em todos os momentos tento ter a cabeça no lugar pra não me deixar esquecer que cada um é lindo à sua própria maneira, com um coração que no fundo não quer ficar sozinho e com um mundo cheio de possibilidades que vão muito além de quantas fotos, matches ou likes você acumular no seu celular.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Histórias e Escolhas

Nas muitas histórias que eu acumulo em mim, me lembro que em vários momentos eu pensei não ter escolha a não ser àquela que estava no meu raio de visão. Porém, repensando os fatos, hoje consigo lembrar exatamente do ponto em que eu desisti; do momento que eu achei melhor virar a mesa; e da hora que eu quis ter as coisas claras na minha vida. 
Ainda assim, no calor do momento, "não tive escolha."
Então me joguei num relacionamento. 
Ou fui morar num lugar diferente.
Ou também desisti de amar alguém.
É bonito pensar que a vida nos oferece certas oportunidades que nos "obrigam" a seguir certos caminhos. Algo tipo destino,  carma, ou seja lá o nome que você quiser dar.
Mas será?
Hoje percebo que eu sempre tive a escolha. O desenrolar das minhas histórias se resumiu sempre à minha decisão. 
É sempre uma escolha entre algumas várias, mesmo que não consigamos enxergar todas elas no momento de decisão.
O que nos permite enxergá-las ou não é justamente nossa percepção, que pode se aumentar ou diminuir de acordo com nosso grau de dramaticidade e auto-conhecimento.
Que tal, então, tirar a cabeça do copo d'água ou se permitir ser e fazer o que você realmente quer?
Quem sabe assim a gente perceba que o mundo não vai acabar por seguir um caminho e não outro; bem pelo contrário. Quem sabe assim a gente perceba que o mundo sempre vai nos oferecer inúmeras oportunidades para que alcancemos a felicidade, contanto que estivermos de braços abertos para isso.
Já aprendi algumas das minhas infinitas possibilidades e sei que ainda há muitas a serem descobertas. Mas o drama por vezes ainda me puxa pra baixo. 
Por isso, deito a cabeça no travesseiro no fim do dia e não tenho coragem de pedir mais nada à Deus além de perspectiva.
Que eu tenha perspectiva para ver as coisas pelo que são, não pelo que eu desejo; para enxergar com os olhos da alma o horizonte que meus olhos físicos não tem capacidade; e para perceber que a felicidade está sempre a uma escolha de distância.

sábado, 8 de março de 2014

Desconfortável

No período em que eu estava em NY no ano passado, resolvi realizar um desejo antigo: fiz três piercings na minha orelha direita.
O detalhe foi apenas que a moça da loja de tatuagens não conseguia fazer o terceiro e último furo parar de sangrar. Ainda que um bocado desconfortável, não senti vontade de chorar.
"Mesmo se doer, só significa que eu ainda estou viva", respondi quando minha irmã americana me perguntou se estava doendo.
Ainda no exterior, passei um bom tempo aprendendo com a solidão. Fui a lugares, shows e cidades na minha própria companhia, que, assim como meu furo na orelha, nem sempre era muito agradável. Mas o desconforto passava no instante em que eu o abraçava por inteiro ou no segundo em que eu me colocasse bem no centro da Grand Central Station.
Desde lá, havia sendo relativamente fácil encontrar meu próprio centro quando batia alguma pulga atrás da orelha ou qualquer outra coisa que me deixasse entre o dormir e acordar no meio da noite. Eu já conhecia a sensação. Eu me aceitava. Ia ficar tudo bem. Estava tudo bem.
Mas ultimamente não era o que estava acontecendo. Me peguei abrindo a geladeira sem motivo, andando sem rumo pela casa e correndo sem controle dos meus pensamentos. E o mais frustrante disso tudo é que eu achava que já tinha passado dessa fase. Achei que já tinha me acostumado comigo mesma, que já tinha me entendido e aprendido a viver sozinha.
Mas vai ver eu também não sou mais a mesma. Vai ver eu mudei, como é normal e saudável todos nós mudarmos de tempos em tempos.
Então, nada mais normal e saudável do que se sentir meio/totalmente inquieta de vez em quando. Porque o desconforto nem sempre é um sinal de que não aprendemos uma lição; simplesmente há uma nova a ser aprendida para que algo novo se realize. 
Como tudo na vida, nós também estamos em constante mudança. Como tudo na vida, não é bom nos acostumarmos demais com nós mesmos. Quanto maior o costume ou a acomodação, mais desconfortável ou até doloroso será o poder implacável que a mudança terá na vida de todos nós.
No dia em que eu não tiver que lidar com mais nenhuma inquietude, quando eu entender todos meus pensamentos ou assim que eu me entregar à minha zona de conforto... já não posso me considerar realmente viva.
E estando tranquila ou inquieta em mim mesma... damn, it feels good to be alive.
É bom demais estar viva.