quinta-feira, 2 de abril de 2015

Dúbia

Cada vez mais olho pra dentro de mim mesma e percebo enormes contradições. Sou romântica, mas também casual. Sei ter foco, mas também sou muito instável. Não perco uma chance de ser brincalhona, mas posso levar algumas coisas muito a sério.
Como tantos extremos podem caber em uma pessoa só?

Olha, se utilizamos apenas 10% da capacidade do cérebro, acho que uns 8% disso deve ser só pra pregar peça em nós mesmos. Porque toda vez que vou um pouco mais a fundo e me pergunto porquê agi ou me senti de um jeito ou de outro em uma determinada situação, a resposta sempre leva a minha essência, minha história e minha maneira pessoal de perceber o mundo. Mas nossa mente é traiçoeira, e é capaz de criar as mais incompreensíveis maneiras de lidar com o quê apenas nós mesmos podemos compreender. Ela também tem seus motivos; compreender nossa essência é um trabalho intransferível que exige tempo, esforço e o reconhecimento de partes nem tão bonitas quanto a própria mente gostaria. 

Mas não dá pra fugir de si mesmo por muito tempo, a não ser que nos conformemos com o destino fatal de cair em todas as peças que nossa mente pregar. E, na boa, isso cansa. E cansa mais ainda lutar contra as próprias contradições.

Tira tudo que você acha que sente dos dois lados do ringue e traz pra perto de você. E, sei lá, vai ver esses seus contrários nunca quiseram de verdade estar em lados opostos; eles só precisavam de alguém pra parar a briga por eles.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Primeiras Vezes

Em praticamente todo filme que assisto, todo livro que leio e até todas minhas próprias experiências, as primeira vezes amorosas são meio... superestimadas. 
"É a primeira vez que faço isso com alguém"
"É a primeira vez que me sinto assim por alguém"
"É a primeira vez que vou nesse tipo de lugar por alguém"
E essa repetição toda nem é o problema. A dor de cabeça vem depois, com a única conclusão possível depois de tantas primeiras vezes:
"Agora é pra valer."

Ok, é normal sentir tudo isso na sua primeira e até segunda paixão. Mas, convenhamos, chega uma hora que não sobram muitas primeiras vezes a serem exploradas. E aí, a conclusão é que você desperdiçou todas suas chances de ser feliz de verdade? E mesmo as primeiras vezes que sobram, as sensações que ainda são únicas, são  simplesmente a repetição de um príncipe encantado que toda hora bate à sua porta?

Apesar de algumas semelhanças, todo e cada parceiro que você tiver despertará algo diferente em você. Isso não quer dizer que esse sim "vai dar certo", que vocês vão casar, ter filhos e envelhecer juntos caminhando ao por-do-sol. Isso só quer dizer que você estava aberto a conhecer, sentir e receber algo diferente do que esperava, e sim, se surpreendeu. Dure o tempo que durar, seja esse sentimento mútuo ou não, já é algo "certo". Todos nós precisamos nos surpreender de tempos em tempos.

Não me leve a mal. Isso não quer dizer que todos ou que nenhum dos seus casos amorosos vão ser especiais. O que posso garantir é que todos eles serão únicos. Quanto ao fator "especial", esse é uma escolha sua. É você que escolhe acreditar nas pequenas singularidades daquele relacionamento para determinar se é ou não algo que "pode dar certo", da forma que for. 

Mas, antes disso, pode valer a pena aceitar o relacionamento da maneira que é, sem grandes expectativas, sem esperar que ele seja o "The One", e sim com o coração aberto para ser surpreendido e - por que não? - feliz a qualquer momento.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

No Pain, All Gain

Por muito tempo eu segui aquela filosofia Nike de viver: se você quer resultados, tem que doer e deixar doer. Por isso eu me exercitava 2 horas por dia, e, se doía, é porque tava fazendo efeito. Também acreditei naquela propaganda de que é preciso forçar seus limites para expandi-los. Por isso acordava às 6 da manhã para suar pelo corpo todo e chegar ao meu limite em todos os treinos de CrossFit. 

Mas, na verdade, o que tudo isso fez foi colocar ainda mais dores e limites na minha cabeça. O meu valor próprio recaía ao meu tempo de treino e até à dor que eu sentia no dia seguinte. E isso se transferiu a todas as áreas da minha vida, de maneira que eu passei a associar sucesso a dor. Se qualquer conquista vinha sem dor,  era "bom demais pra ser verdade". Eu aceitava a dor como parte da minha rotina, só mais um compromisso na minha agenda.

Meu corpo até aguentou bem o tranco; foi a minha cabeça que não me deixou continuar. Já nem me lembrava da última vez que havia me olhado no espelho sem me sentir gorda. Já havia me acostumado a me sentir insatisfeita todos os dias. Isso me cansava mais do que qualquer corrida. Então resolvi jogar limpo e admitir pra mim que estava cansada de deixar que o meu valor próprio variasse tanto quanto meu peso na balança.

Com essa mudança de percepção, tive que conversar bastante comigo mesma. Me permiti sentir bonita, mesmo que não como eu imaginava. Me deixei sentir fome sem culpa, aprendendo ouvir o que meu corpo precisava. Aceitei que o exercício físico era um prazer na minha rotina, mas que eu não ia morrer se passasse uma semana sem ele.

Até ganhei alguns quilinhos durante nessa fase, mas já nem me importava tanto. Eu estava mais feliz, e todas as outras áreas da minha vida começaram a desabrochar junto com isso. Comecei a me perdoar pelas minhas falhas, e ficou muito mais fácil reconhecê-las. Deixei de me castigar pelos meus erros, e ficou muito mais fácil corrigi-los. 

Me peguei no colo e disse pra mim mesma que ia ficar tudo bem. E ficou.

Hoje, alguns quilinhos já até foram embora. Me exercito regularmente com Pilates e corrida e nunca me senti tão satisfeita comigo mesma. É verdade que muitas vezes tenho que me esforçar um bocado pra saltar da cama ou tirar a bunda do sofá, mas isso está longe de ser dolorido ou de forçar qualquer limite. Na verdade, tento manter em mente o resultado que quero ter em minha consciência, ao saber que estou cuidando de mim mesma com o carinho e a atenção que mereço.

Enquanto minha mente se mantiver aberta e em expansão, todos os limites são mera ilusão.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Parabéns, você tentou.

Depois de uma tentativa frustrada, o que não falta é frase clichê pra prêmio de consolação.
"Pelo menos você tentou" é uma dessas tristes que até fazem sentido, mas que não deixa de ser meio simplória. Ok, você realmente não saberia se era possível ou não sem arriscar, mas tem bem mais que isso por trás de uma tentativa. Se não tivesse, você não continuaria pensando nisso por tanto tempo, certo?

Tentar indica esforço para sair da sua zona de conforto e ir atrás do que se deseja. E por isso mesmo que muitas vezes o esforço tem que ser incrivelmente grande. É preciso coragem pra sair da zona de conforto. É preciso clareza pra saber o que se deseja de verdade. 

É preciso certeza para arriscar um movimento novo.

Mas se essa coragem for pura e a clareza for da essência, uma hora ou outra o "tentei" inevitavelmente se torna "consegui". A coragem não te deixa desistir; a clareza te mostra o aprendizado de cada tentativa. 

E vai ver um dia, um pouco mais a frente, a gente perceba que conquista maior não foi atingir ou desistir desse objetivo isolado na nossa mente. O propósito maior acaba ser nos mantermos fiéis a quem somos, ao quê queremos e aonde queremos chegar. 

Até chegar lá, ok, aceito o consolos alheios. Mas se querem realmente me ajudar, prefiro que digam "admiro sua coragem para se manter verdadeira consigo mesma. Não desiste não, tá?"

Tá.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Home

Um sentimento ambíguo toma conta de mim toda vez que volto de uma viagem.
Respiro aliviada o ar da minha cidade, mas já relembrando de como era o ar do meu destino anterior.
Fico feliz de dormir na minha caminha querida, mas já com saudades de acordar pra ver algo novo.
Minha cabeça sabe que estou em casa, mas meu coração já não tem mais tanta certeza.

O conceito de "lar" costuma ser associado com a sensação de pertencimento, conforto e até liberdade total para sermos nós mesmos. Mas quando você passa um tempo longe e em tantos lugares, ou você aprende a ser você mesmo em qualquer lugar ou aceita morrer de saudades de casa e voltar. 

Eu não voltei. E esse aprendizado me fez perceber que não existe nenhum lugar como a nossa casa, é verdade; mas também não existe nenhum lugar que nem o outro. Todos os lugares, conhecidos ou não, são únicos e merecem nossos olhos bem abertos para absorvê-los por inteiro. Descobrir e experienciar o novo é algo mágico, mas para isso é preciso estar em si mesmo primeiro. É preciso estar presente em si, centrado em sua essência, aberto a sua própria verdade, para então aceitar e entender a verdade de cada lugar.

Assim, sensação de pertencimento já não se prende mais a nenhum lugar; apenas a você mesmo. Qualquer lugar no mundo pode ser sua casa, desde que assim se queira. Por isso mesmo que agora eu escolho sentir que essa casa aqui é minha, reconhecendo que sou a mesma pessoa aqui, ali ou onde quer que eu esteja.

Pode até vir gente argumentando que eu só estou falando tudo isso porque ainda não tive um canto do mundo só meu, com a minha cara e do meu jeitinho. Pode até ser. Mas até lá, antes de pertencer a qualquer lugar, prefiro pertencer a mim mesma.