sábado, 12 de julho de 2014

Definir-se pelo seu trabalho é o mesmo que limitar-se

Tenho a data de entrega gritando num ouvido.
A voz do meu chefe no outro.
E dez mil vozes dentro de mim exigindo nada mais do que a perfeição.
Haja trabalho. Mas pra quê mesmo?
Ok, as contas não vão magicamente desaparecer no final do mês e a comida não vai milagrosamente brotar no seu quintal cimentado. Mas chega num ponto em que não estamos mais trabalhando só pra pagar conta ou botar comida na mesa.
Nessa hora, quando já estamos descontando o estresse até no cachorro atravessando a rua, parece bem mais provável que estejamos trabalhando para provar nosso valor.

É o nosso valor profissional recaindo sobre o pessoal. Como se ser um profissional competente me fizesse automaticamente uma pessoa melhor. Mas foi assim que a gente aprendeu. 
Quando a tia do jardim de infância perguntava sobre nosso futuro, não queria saber dos lugares ou pessoas que queríamos conhecer. Ela perguntava sobre o que queríamos ser, e um "ser" totalmente restrito à nossa condição profissional. E daí a escola, o colégio, a faculdade, a vida toda passa a girar em volta de uma carreira que supostamente vai ditar nosso nível de sucesso e satisfação pessoal.
E quando finalmente surge o primeiro emprego e a carreira começa a se concretizar, a gente não hesita a cair de cabeça no trabalho e deixar que todas as outras áreas da nossa vida girem em volta dele. 

E a pergunta surge de novo: pra quê mesmo?
Pode ser sincero. A sensação de estar estressado, ocupado e sobrecarregado supre todas suas necessidades de reconhecimento, afeto e satisfação? Se sentir exausto te traz felicidade?
Pelo menos no meu caso, me recuso a responder que sim. Me recuso a acreditar que o trabalho é capaz de nos definir. 

Cada um tem sua vocação, e o trabalho pode ser uma maneira linda de explorá-la. Mas muitas vezes temos mais do que vocação; temos várias, mesmo elas sendo contraditórias ou não se aplicando na mesma profissão. E, ainda assim, todas podem servir para nosso crescimento pessoal, ao mesmo tempo que contribuem para a sociedade. Por que não ser engenheiro durante a semana e técnico do time de futebol do bairro no domingo? Por que não achar 1h de intervalo entre uma aula e outra pra tocar violão no hospital da cidade? E por que não fazer aquelas aulas de dança no seu tempo livre da empresa?

Somos dez mil coisas dentro de uma só. Permita que seu trabalho seja parte de quem você é e o faça com muito amor. Mas não se limite. Não se esconda de tudo que você é.
Explore-se. Descubra-se.
E seu valor próprio será muito maior do que seu chefe ou seu salário jamais poderiam te dar. 

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