sábado, 8 de março de 2014

Desconfortável

No período em que eu estava em NY no ano passado, resolvi realizar um desejo antigo: fiz três piercings na minha orelha direita.
O detalhe foi apenas que a moça da loja de tatuagens não conseguia fazer o terceiro e último furo parar de sangrar. Ainda que um bocado desconfortável, não senti vontade de chorar.
"Mesmo se doer, só significa que eu ainda estou viva", respondi quando minha irmã americana me perguntou se estava doendo.
Ainda no exterior, passei um bom tempo aprendendo com a solidão. Fui a lugares, shows e cidades na minha própria companhia, que, assim como meu furo na orelha, nem sempre era muito agradável. Mas o desconforto passava no instante em que eu o abraçava por inteiro ou no segundo em que eu me colocasse bem no centro da Grand Central Station.
Desde lá, havia sendo relativamente fácil encontrar meu próprio centro quando batia alguma pulga atrás da orelha ou qualquer outra coisa que me deixasse entre o dormir e acordar no meio da noite. Eu já conhecia a sensação. Eu me aceitava. Ia ficar tudo bem. Estava tudo bem.
Mas ultimamente não era o que estava acontecendo. Me peguei abrindo a geladeira sem motivo, andando sem rumo pela casa e correndo sem controle dos meus pensamentos. E o mais frustrante disso tudo é que eu achava que já tinha passado dessa fase. Achei que já tinha me acostumado comigo mesma, que já tinha me entendido e aprendido a viver sozinha.
Mas vai ver eu também não sou mais a mesma. Vai ver eu mudei, como é normal e saudável todos nós mudarmos de tempos em tempos.
Então, nada mais normal e saudável do que se sentir meio/totalmente inquieta de vez em quando. Porque o desconforto nem sempre é um sinal de que não aprendemos uma lição; simplesmente há uma nova a ser aprendida para que algo novo se realize. 
Como tudo na vida, nós também estamos em constante mudança. Como tudo na vida, não é bom nos acostumarmos demais com nós mesmos. Quanto maior o costume ou a acomodação, mais desconfortável ou até doloroso será o poder implacável que a mudança terá na vida de todos nós.
No dia em que eu não tiver que lidar com mais nenhuma inquietude, quando eu entender todos meus pensamentos ou assim que eu me entregar à minha zona de conforto... já não posso me considerar realmente viva.
E estando tranquila ou inquieta em mim mesma... damn, it feels good to be alive.
É bom demais estar viva.

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