segunda-feira, 24 de março de 2014

Meninos Perdidos

Você saiu de casa. Passou na faculdade, mudou de cidade, deixou a família pros fins de semana e feriados.
Mas os planos deram errado. A cidade ficou grande demais, os sonhos diminuiram, a grana apertou.
E no fundo até foi algo bom. Há anos você já sentia saudades de casa.
Toda vez que você pegava a estrada de volta a cada 2 ou 3 meses, era a melhor sensação do mundo. A família inteira te recebia de braços abertos, a comida da mamãe já te esperava no fogão, e, só de ver a tua cidade natal, uma sensação familiar envolvia os braços ao teu redor dizendo "vai ficar tudo bem. Você está em casa."
E essa mesma sensação se repetiu agora, na sua volta definitiva por tempo indefinido.
Mas a primeira semana passou, e você não reconhecia mais tão bem teu quarto. Daonde surgiu tanta bugiganga? Cadê meu livro preferido da quinta série? Esse ainda é meu armário?
O primeiro mês passou, e você começou a cansar dessa história de ter horário pra tudo. O que você vai fazer hoje? Mas tem que almoçar alguma coisa, filha. Como assim, não sabe a hora que vai voltar da festa?
Daí veio o segundo mês, e com ele também a saudade da novidade da cidade grande. Não tem nada de novo pra fazer nessa cidade? Por que todo mundo tem que se vestir igual? Por que eu me importaria com o quê os vizinhos pensam?
Quando você menos espera, já fecham 6 meses. E você mais do que nunca sente falta do teu espaço, dos teus horários e da selva de pedra que você deixou pra trás.
Você está em casa, mas ela não é sua. 
Você é bem-vindo, mas ainda se sente visita.
Nem tem coragem de deixar teu quarto com a tua cara. E se pega dizendo coisas como "quando eu tiver minha própria casa..." Mas também não faz a menor ideia de quando, onde ou como isso vai acontecer.
Mesmo sabendo onde você está, não muda muita coisa.
Você ainda se sente perdido.
Quantos passos pra trás vai ter que dar até você finalmente conseguir caminhar quantos passos bem entender no seu próprio caminho?
É difícil dizer, principalmente quando não sei o caminho a seguir. 
Enquanto isso, vai ver é melhor ir notando e anotando o quê não quero seguir.
Não quero deixar de ser livre.
Não quero me perder de mim mesma.
Não quero esquecer de quem eu sou, de onde passei e de onde eu sou.
Boa noite, Terra do Nunca. 

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